Jacurutu, a rainha das corujas
- Aves do Piracicaba
João Sérgio
- 23/02/2025
- 0
- 7288
- 5 minutos

Maior rapinante noturno das Américas, o jacurutu ou corujão-orelhudo (Bubo virginianus), reina absoluto no seu habitat: áreas abertas próximas de alguma mata, onde se refugia ao longo do dia e nidifica. Pode utilizar também penhascos, tanto para passar o dia, como para fazer ninho.
Em áreas densamente florestadas, como na Amazônia e em áreas preservadas da Mata Atlântica, não encontramos a rainha das corujas.
Poderoso predador de topo, é destemido e imponente. Com seus 60 cm de comprimento e poderosas garras, caça uma enorme gama de presas.
Dizem que chega a predar animais que podem ter até três vezes o seu tamanho! Segundo o naturalista Arthur Clevelant: “Quase toda criatura viva que anda, rasteja, voa ou nada, que não sejam grandes mamíferos, é presa legítima da grande jacurutu”.
Preda aves, como patos, garças e até outras espécies de corujas; e mamíferos, como morcegos, lebres, gambás, tatus e até porcos-espinho.
O dimorfismo sexual, ou seja, a diferença entre os sexos, apresenta-se somente quanto ao porte, sendo a fêmea bem maior que o macho, como é de praxe entre as aves de rapina.
Quando estão acasalados, fica fácil a identificação, já que a fêmea pesa um “gavião-pato” a mais.
Na nossa bacia são raros os registros do jacurutu (fonte: Wikiaves): Barão de Cocais (1 registro), Catas Altas (1), Itabira (1), Mariana (1), Marliéria (2), Ouro Preto (3), São Gonçalo do Rio Abaixo (3).
As fotos que ilustram nossa coluna de abertura de 2025 foram conquistadas graças à comunicação do Rafael, genro de Weber Araújo, que nos informou onde encontrou essa magnífica ave, e assim pude passar a informação para o grande observador Weslley Lima, que foi ao local e confirmou a presença de um casal. Então, assim que pude ir à região, e juntamente com o observador piracicabense e amigo de longa data, Marcos Melo Jr., nos encontramos com o Weslley e adentramos uma trilha nova para mim, apesar de ser numa área um tanto quanto familiar.
Aqui vale um breve relato:
A trilha era de rara beleza cênica, um lugar que inspirava elevação, combinando demais com o bicho procurado.
Depois de ligeiros minutos caminhados, chegamos ao ponto. Mais alguns minutos apreensivos se passaram sem nenhuma resposta às técnicas atrativas convencionais.
Quando a possibilidade de insucesso começava a pairar, o Weslley informou que demorou meia hora pros bichos aparecerem, da vez que ele os encontrou.
De qualquer forma continuamos ainda um pouco apreensivos, porque um incêndio havia afetado recentemente o território do casal, o que poderia tê-los afugentado.
Até que, do mais profundo da floresta, um som marcante e inconfundível ressoa pelo grande paredão que margeia a mata!!!
Entreolhares de felicidade e renova-se a esperança em registrar, na bacia do Rio Piracicaba, a maior coruja das Américas! Um verdadeiro “monstro” alado que, depois de mais alguns instantes cheios de ansiedade e emoção, nos sobrevoa, causando inevitável euforia e grande deslumbramento com o impacto de sua forte presença na mata. Até um falcão-de-coleira veio a tiracolo do jacurutu, vocalizando agonisticamente, uma prova do pavor que a grande coruja desperta na bicharada.
Nos momentos que se seguiram foi uma correria só, procurando os melhores ângulos e a melhor luz para compartilhar com os caros leitores do Tribuna essa incrível espécie, a rainha das corujas, que do alto do seu reino, nos ignorava solenemente.