NÓS, PERDIDOS NO MEIO DO FOGO !
- Águas e mudanças climáticas - Cláudio Guerra
- Dindão
- 31/10/2024
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Durante os meses de agosto e setembro de 2024, o Brasil viveu a maior catástrofe de incêndios de sua história, com as chamas se espalhando por todos os estados da Federação e chegando a destruir 50% da Floresta Nacional, em Brasília, que fica a 15Km do Palácio do Planalto. Ali, o Presidente da República se reunia com seus ministros para buscar soluções emergenciais contra o fogo, tendo ao fundo, a fumaça das queimadas. O país continental vivia o caos, com a situação absolutamente fora de controle no final de setembro.
É curioso o fato de ninguém ter falado do PNMC (Plano Nacional sobre Mudanças do Clima) que o Governo Federal criou em 2016.
Segundo o IBAMA e a Ministra Marina Silva, 95% do fogo é criminoso, o que lembra um certo “terrorismo climático”, onde as penas aos culpados são muito leves. No entanto, o Governo Federal ficou perdido: não conseguiu estancar o fogo. Um Ministro do STF, corretamente, flexibilizou a contratação de novos bombeiros e brigadistas.
Estamos vivendo uma espécie de filme de terror: ondas de calor, seca excessiva de mais de 150 dias sem chuvas em centenas de cidades, vegetação seca, período de muitos ventos, colocação criminosa de focos de incêndios, fogo intenso e se alastrando em centenas de frentes, florestas, estradas, áreas urbanas, etc. Mal conseguimos ver os bravos bombeiros e brigadistas numa luta desigual: o fogo grande e feroz, o homem pequeno. A chuva não chega! “O diabo na rua, no meio do redemoinho” dizia Guimarães Rosa. Hoje é o fogo no meio do redemoinho.!
A maior seca da Bacia Amazônica leva os Rios Solimões, Madeira, Negro e Acre a atingirem níveis inimagináveis afetando o deslocamento de pessoas e mercadorias, suspensão de aulas, ameaça às eleições por falta de navegabilidade dos rios, além da destruição da biota aquática, chegando a mortandade de peixes. A destruição no Pantanal chegou a níveis nunca visto antes, quase 2 milhões de hectares queimados, um recorde que chega perto de 10% daquele bioma. (2020 era o ano do recorde).
O “fogo louco” se espalha por todo o país e sua fumaça ajuda a desenhar um cenário de terra arrasada. Um aspecto importante é o de se estimar os efeitos catastróficos do “fogo louco” não só nas perdas materiais, insegurança hídrica, efeitos na saúde de crianças e idosos e na biodiversidade terrestre e aquática, nas perdas de estoque de carbono das florestas. Outros desdobramentos já surgiram como a péssima qualidade do ar nas capitais: a fumaça ataca os olhos e as vias respiratórias e com a umidade relativa do ar muito baixa as pessoas não conseguem respirar direito, além da presença da fuligem no ar. Além disso, lembremos que, certamente, haverá uma redução de nosso PIB e o surgimento da oportunista “inflação da seca e do fogo”.
O professor Carlos Nobre, do INPE, cientista de renome internacional, que estuda as mudanças climáticas há 40 anos se diz surpreso e assustado com o que está acontecendo. Ele estima que 1 milhão de pessoas morreram em todo mundo no período 2023/2024 devido às mudanças climáticas, principalmente crianças e idosos em países pobres.
O Governo Federal fala em “Pacto contra o fogo”. No final de setembro? É simples: prevenir é melhor do que remediar.
* Claudio B. Guerra é consultor ambiental na bacia do Rio Doce nos últimos 30 anos. Fez o mestrado em recursos hídricos pelo UNESCO Institute for Water Education, em Delft, na Holanda.
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