1944/2024 – Parque Estadual do Rio Doce completa 80 anos
Conhecida como “Amazônia Mineira” a Unidade de Conservação foi a primeira criada em Minas e uma das primeiras do país
As florestas de Mata Atlântica situadas nas cidades de Marliéria, Dionísio e Timóteo, no Vale do Aço, chamaram a atenção do então arcebispo de Mariana, dom Helvécio Gomes de Oliveira, que, provocado pela comunidade de Marliéria, encampou em visita pastoral na região, organizada pelas comunidades na década de 1930, ao ponto de sugerir aos presentes que se criasse uma reserva florestal naquele espaço. Foi assim que, em 14/7/1944, nasceu a primeira unidade de conservação de Minas Gerais: o Parque Estadual do Rio Doce (PERD) que, neste 14 de julho de 2024 completou 80 anos de criação, com diversos motivos para comemorar.
Celebração dos 80 anos
A população foi a principal convidada a participar das atividades que celebram o aniversário do parque. Neste dia em que o parque completou 80 anos, uma cerimônia solene foi realizada na unidade de conservação e contou com a participação de autoridades de todos os níveis.
Ás 9 horas o público presente assistiu ao ar livre, no gramado ao lado do Mirante, a uma apresentação artística contando a história do parque pela companhia “Dama Espaço Cultura” em uma adaptação de um conto escrito pelo gerente do PERD, Vinícius Moreira, nascido e criado junto às matas do parque. O conto narra a relação afetiva de um menino, as matas, os lagos, o anel “perdido” do bispo e a natureza como um todo – o menino era o próprio Vinícius Moreira.
Após a apresentação, Vinícius, emocionado, abriu as solenidades dando as boas-vindas e falou sobre sua relação com o parque.
Durante o evento aconteceu o lançamento do livro “Bicho da Mata Atlântica – A Biodiversidade do Perd”, trabalho coordenado por Lucas Mendes e a equipe do ICAS – Instituto de Conservação de Animais Silvestres. O livro destaca o Projeto Tatu-canastra.
Durante as manifestações das autoridades, um destaque a parte foi o discurso do professor Dr. José Carlos Carvalho, que foi ministro de meio ambiente no governo de Fernando Henrique e um dos idealizadores e fundadores do Ibama, do qual foi diretor. José Carlos foi também coordenador dos estudos e do projeto que deu origem à Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad), sendo seu primeiro secretário.
O professor ambientalista falou sobre a degradação que ocorre em toda bacia do Rio Doce, lembrou o acidente da barragem de Fundão da Samarco em Mariana e lamentou a situação do entorno do parque: “o Parque Estadual do Rio Doce é uma ilha cercada por degradações”.
O Diretor do IEF Breno Esteves Lasmar e a secretária de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, Marília Carvalho de Melo também prestigiaram o evento e discursaram destacando a importância da unidade de conservação para a região, o estado, o pais e o mundo.
Após os discursos, inúmeras personalidades, parceiros, colaboradores e bem feitores do parque foram homenageados com Menção Honrosa.
O “parabéns” foi cantado por todos os presentes acompanhado pelo músico Douglas Neto.
As comemorações dos 80 anos do Perd se estenderão até o fim do ano, com extensa programação.
O parque
Distante 200 quilômetros de Belo Horizonte e gerido pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), o Parque Estadual do Rio Doce, com seus 36 mil hectares, se destaca por abrigar a maior área contínua de Mata Atlântica preservada no estado, com uma rica biodiversidade e árvores centenárias que fazem parte de um universo de florestas altas e estratificadas.
Já em relação à fauna, o destaque fica para a onça pintada. A presença do felino no parque é um reconhecido indicador de qualidade ambiental, por sua exigência de ambiente ecossistemicamente equilibrado e com “saúde” para sua alimentação e reprodução.
Em se tratando da avifauna, o número de espécies encontradas no parque corresponde a 50% de todas as aves registradas em Minas Gerais e um quinto do total de espécies registradas no Brasil.
A Unidade de Conservação possui, ainda, mais de 40 lagoas em seu território e está aberta à visitação. O parque compõe o terceiro maior complexo de lagos do país atrás apenas do Pantanal e do sistema Amazônico e o quarto do mundo, atrás dos Everglades, na Flórida, EUA.
O PERD também é reconhecido internacionalmente como Sítio Ramsar, (que pertence à União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN), sediada em Gland, na Suíça) por conservar zonas úmidas consideradas prioritárias na estratégia global de proteção da biodiversidade.
O Parque possui estrutura completa para controle, acolhimento e hospedagem de visitantes e está aberto de terça a domingo, das 8h às 17h, com entrada permitida até às 15h.
Ameaças da especulação imobiliária
Quase a totalidade dos chacreamentos no entorno do Parque Estadual do Rio Doce (Perd) foi retirada da zona de amortecimento da unidade na revisão do seu plano de manejo, concluída em 2023.
Sitiantes, políticos, empresários e investidores pressionam para regularizar propriedades no entorno do parque, inclusive com a realização de uma audiência pública na Assembleia Legislativa em outubro do ano passado.
Naquela oportunidade a superintendente-executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), Maria Dalce Ricas criticou e disse que em sua opinião, excluir propriedades da zona de amortecimento do parque é tentar regularizar o ilegal.
Ela defendeu que fossem feitos estudos técnicos que analisassem a situação de cada propriedade para identificar no que se enquadra, se de fato se trata de um sitiante que depende daquilo para sobreviver ou de uma casa de campo, por exemplo.
Dalce Ricas ponderou ainda que esse tipo de iniciativa contribui para o avanço da especulação imobiliária.
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