As mudanças climáticas e a mídia-1

 As mudanças climáticas e a mídia-1

 A informação e o conhecimento são elementos fundamentais na sociedade globalizada, tecnológica e competitiva de hoje. Dentro da dinâmica social, no longo processo de construção da cidadania ou na mudança de um cenário ambiental de uma determinada região, cada dia mais a informação e o conhecimento desempenham papel primordial. A razão é simples: “ninguém defende aquilo que desconhece”.

 Alguns acontecimentos no passado recente evidenciam que o público quer e precisa ter mais informação ambiental. Em Minas Gerais tivemos, recentemente, duas tragédias socioambientais: no Rio Doce, em Mariana e 39 municípios, e no Rio Paraopeba, atingindo Brumadinho e 15 municípios.

Tais exemplos mostraram as estratégias das “fontes oficiais” de empresas e governos frente aos eventos. Num primeiro momento, disseminam informações tentando “minimizar” a extensão dos danos socioambientais, usando palavras como incidentes, acidentes e fatalidades.

Aqui é preciso ressaltar o papel desempenhado pela mídia, pois suas publicações, questionamentos e esclarecimentos são capazes de influenciar a vontade social de uma população. Desta forma, a opinião pública não aceita mais situações esdrúxulas como, por exemplo, pessoas morrendo sufocadas pela lama vinda do rompimento de barragens de rejeitos de mineração, ou em inundações nas cidades ou em filas dos hospitais, incêndios florestais de grandes proporções, etc.

As repercussões negativas de uma “conduta suja” em relação ao meio ambiente parecem indicar que, apesar de tudo, o cidadão brasileiro começa a cobrar uma melhor postura ambiental dos governos e das empresas, públicas ou privadas. É curioso observar que a transparência, a ética ambiental e a responsabilidade social são valores que começam a ser internalizados pela sociedade, mas não tiveram a aceitação por parte de uma empresa transnacional do porte da VALE S.A. Ela, por exemplo, não mudou seu posicionamento e continuou priorizando a abordagem puramente financeira na apropriação dos recursos naturais, além de alicerçar-se na certeza da impunidade, tendo em vista seu peso econômico, social e político no país. 

Portanto, primeiro temos que reconhecer o papel importante da mídia na formação da opinião e do posicionamento dos cidadãos frente a um determinado problema socioambiental. Para que as pessoas compreendam as suas realidades, os veículos de comunicação têm como função social colaborar fornecendo as informações de forma isenta e, assim, prestando um serviço às comunidades: informações de caráter público, alertas hidrológicos, situações de trânsito e em rodovias, riscos de deslizamentos, pandemias  e epidemias como no caso do COVID e  DENGUE etc. O papel da mídia durante a recente tragédia no Rio Grande do Sul tem sido de muita grandeza e responsabilidade.

Por outro lado, infelizmente, temos visto também algumas matérias que noticiam, mas não informam o leitor ou telespectador. Este é o caso, por exemplo, de um tema complexo como mudanças climáticas, que têm sido colocado de uma maneira sensacionalista e superficial em alguns veículos. Divulgar dados e números preocupados apenas em noticiar, sem um mínimo de análise, configuram as “fakes News”.

Portanto, a opinião pública precisa cobrar qualidade e confiabilidade das informações prestadas pelos órgãos da mídia. É preciso lembrar sempre que a mídia é uma concessão do poder público

Entretanto, é preciso ressaltar que jornalista não é professor e nem salvador da pátria. A imprensa brasileira não pode e nem deve ser considerada culpada pelo paradoxo que vivemos hoje: conhecemos o que são as mudanças climáticas, mas não existe uma mobilização social no pais para enfrentar um cenário difícil, imprevisível  e de proporções inimagináveis. Infelizmente, ao que parece, a expectativa da população é de que o “governo vai resolver ou tem a obrigação de fazê-lo”.

* Claudio B. Guerra é consultor ambiental na bacia do Rio Doce nos últimos 30 anos. Fez o mestrado em recursos hídricos pelo UNESCO Institute for Water Education, em Delft, na Holanda.Fonte: UFU

 

Fonte: UFU

Dindão

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