Mudanças climáticas e o agronegócio

 Mudanças climáticas e o agronegócio

O agronegócio representa hoje cerca de 23% do PIB nacional. Segundo o IBGE, em 2022, o Produto Interno Bruto do agronegócio cresceu cerca de 300%, atingindo US$ 500 bilhões. Assim, ele se tornou uma referência mundial em termos de tecnologia, inovação e produtividade.

Entretanto, estudo divulgado, em 2018, pelo Observatório do Clima, mostra que dos estados brasileiros, o Pará e o Mato Grosso são os maiores emissores de gases do efeito estufa. Segundo a ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento), o maior consumidor de água hoje do país é a irrigação, especialmente a dos grandes projetos, que usam o sistema de aspersão com pivô central, como é o caso da soja. A irrigação corresponde a 75% de toda a água consumida num país continental como o Brasil. Mas também é impressionante a baixa eficiência no uso da água na irrigação no país: as perdas na distribuição, aplicação, evaporação etc., chega a 50%, isto é, metade da água usada na irrigação é desperdiçada!!! (Serrageldin 1997 e Cristofidis 2001).

A pecuária extensiva e as grandes áreas cobertas por soja irrigada, sobretudo no Mato Grosso e Pará, justificam sua liderança e mostram a gravidade da questão das emissões dos gases do GEE´s (Gases Efeito Estufa).

Dados recentes do Observatório do Clima mostram que 70% das emissões de gases de efeito estufa estão relacionadas ao agronegócio e, mais especificamente, com a mudança do uso do solo, incluindo desmatamento e conversão de florestas em pastagens (queimadas, uso de combustíveis fósseis, perda da biodiversidade, etc.) E mais: em 2021, toda a cadeia produtiva da carne foi responsável por cerca de 57% do total emitido de gases do efeito estufa pelo país.

O fenômeno das mudanças climáticas já afeta a queda da produtividade agrícola e vem gerando impactos negativos nas exportações brasileiras, além de trazer outras consequências não menos importante, como a inflação (oferta e custo dos alimentos).

O agronegócio poderia desempenhar importante papel na transição para uma economia verde (menos intensiva em carbono) e explorar as vantagens oferecidas pelos créditos de carbono, uma tendência mundial irreversível, cujo mercado, certamente se ampliará muito.

É inegável que as mudanças climáticas se tornaram uma ameaça grave ao agronegócio, que já convive com um preocupante novo cenário de incertezas, de riscos e de prejuízos. Entretanto, o que temos observado até aqui é uma enorme contradição: o setor investe nas consequências e não nas causas das mudanças climáticas. Basta ver o crescimento exponencial do “seguro agro” nos últimos 3 anos. Assim, os contratos de seguro rural passaram a ser um forte aliado do agronegócio. Daí, o surgimento do “boom” de companhias seguradoras e seus mecanismos de proteção aos negócios, produção, intemperismos etc.

 * Claudio B. Guerra é consultor Ambiental na Bacia Hidrográfica do Rio Doce nos últimos 30 anos. Fez o mestrado em recursos hídricos pelo UNESCO Institute for Water Education, em Delft, na Holanda.

Dindão

Related post