As mudanças climáticas e a economia

Já é consenso em todo o mundo que o desequilíbrio climático está ocasionando secas prolongadas, incêndios florestais e inundações (nas áreas urbanas e nas lavouras), os quais afetam diretamente a produção de alimentos e causam perdas de vidas humanas.

Segundo o oeco.org, em 2022, no Brasil, a mudança do uso da terra contribui com 48% das emissões dos GEE´s (gases do efeito estufa), principalmente pelo desmatamento na Amazônia. Somando-se a ela, temos as emissões provenientes da agropecuária, da digestão dos animais (CH4), queima e manejo de resíduos agrícolas, etc. Portanto, a moto-serra, o correntão e o fogo desempenham papeis diferentes no cenário de destruição.

Por outro lado, é preciso ir além da questão da segurança hídrica e alimentar em vários regiões do planeta e observar como funciona o poderoso comércio internacional de grãos: ele está  cada dia mais relacionado com a questão da água e do fenômeno de sua escassez, devido às mudanças climáticas.                                                               

O fator climático mais importante para o crescimento da planta e seu desenvolvimento é a temperatura. Por sua vez, tanto o florescimento quanto a maturação e o crescimento dos frutos também estão diretamente ligados à temperatura: faltando a umidade necessária para garantir a completa germinação das sementes e o estabelecimento da lavoura, a queda da produção é inevitável. Isto tem levado vários países a compensarem suas perdas de produção pela importação de grãos do exterior (em outras palavras, indiretamente, importam água!). Num mundo cada vez mais globalizado, esta é uma forma indireta e inteligente de comprar água, uma vez que, como vimos, a produção de grãos (principalmente aquela irrigada) consume grande quantidade deste líquido.

O déficit hídrico mundial cresce a cada ano, tornando-se cada vez mais difícil de administrar, pois hoje temos não só o conflito pelo uso da terra. Os confrontos pelo uso da água se estenderam e se alastram em dezenas de países.

É curioso observar que o mercado importador de grãos que mais cresce no mundo hoje, a África Norte (Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Egito etc) e Oriente Médio, (Arábia Saudita, Israel, Iran, etc) reúne países com elevado crescimento populacional e que já vivenciam graves problemas de escassez de água. Num número crescente de países com déficit hídrico, como por exemplo, a China e a Índia, o risco é que a necessidade de importar grãos suplante a oferta exportável dos países com excedentes de alimentos, como os Estados Unidos, Canadá e Austrália, etc. Isso provocaria uma procura muito maior que a oferta e a consequente alta nos preços, podendo desestabilizar o mercado mundial de grãos.

O Planeta febril vive hoje um cenário de vulnerabilidades e de emergência climática. O ano de 2023 foi o mais quente desde que se iniciaram as medições da temperatura de forma sistemática: a saúde das pessoas, a produção de alimentos e os ordenamentos da economia mundial estão seriamente ameaçados.

 * Claudio B. Guerra é consultor ambiental na bacia do Rio Doce nos últimos 30 anos. Fez o mestrado em recursos hídricos pelo UNESCO Institute for Water Education, em Delft, na Holanda.

 

 

Dindão

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