Chovendo no molhado – todos conhecem os problemas e as soluções
Desde o início de novembro chuvas intensas e localizadas vem causando transtornos em diversas cidades pelo mundo afora.
Mas aqui nesse espaço vamos nos concentrar apenas na Bacia Hidrográfica do Rio Piracicaba.
Exaustivamente temos escrito sobre a causa dos problemas que atinge a toda população durante o período de chuvas – geralmente de novembro a fevereiro.
Seja direta ou indiretamente, todos acabam pagando o preço pelo descaso que é também de todos.
As consequências desse descaso ambiental nos causam, ano a ano, dor e sofrimento, e contraditoriamente são tão simples de serem resolvidos: Ao invés de gastar recursos para limpar – basta não sujar; e não sujar é apenas questão de educação – não se gasta nada – nem mesmo esforço.
Nesse início de temporada das águas, as cidades de João Monlevade, Rio Piracicaba, Dom Silvério, Santa Bárbara e São Domingos do Prata já foram atingidas, de alguma forma, por eventos da natureza – seja chuva torrencial, granizo ou vendaval – ou ainda tudo junto. Algumas destas já foram atingidas mais de uma vez, e olhem que estamos apenas no começo das “chuvas de verão”.
Bom lembrar que, o que acontecia de 5 em 5 anos, de 10 em 10 anos, agora pode se repetir várias vezes num mesmo período – ou seja, vários eventos extremos em um período de 4 meses.
João Monlevade já registrou dezenas de ocorrências em consequência do despreparo para esse novo “tempo de extremos” e, além dos transtornos causados a toda população, sendo que uns sofrem mais que outros, a administração já investiu sabe lá quanto para remediar.
Assim como em João Monlevade a maioria absoluta das cidades vivenciam essa situação que não é de responsabilidade dos atuais gestores, mas que vem arrastando ao longo dos anos e precisam urgentemente de um basta, antes que tragédias e ou catástrofes ocorram – vide Petrópolis.
É preciso que toda sociedade se envolva nessa missão, já que é ela que sofre as consequências da inércia – e comece a participar ativamente na solução do problema.
Soluções não faltam e a natureza dá a dica.
Especialistas esclarecem a importância dos ecossistemas naturais preservados na resiliência das cidades diante de fenômenos climáticos.
A cada ano, a cena se repete com a chegada do verão. Fortes chuvas em diferentes partes do país provocam cheias dos rios, alagamentos nas cidades, deslizamentos de encostas e, com isso, mortes, pessoas desalojadas ou desabrigadas, infraestrutura destruída e grandes prejuízos financeiros. Mas, afinal, o que é possível fazer para evitar ou minimizar novos episódios? Especialistas ressaltam que não existe resposta pronta, cada caso é um caso, mas concordam que a conservação dos ecossistemas naturais é fundamental na mitigação dos impactos dos fenômenos climáticos extremos, que devem ser cada vez mais frequentes.
Diferentes cidades do mundo já desenvolvem projetos que consideram a implantação, manutenção e recuperação de áreas verdes em pontos estratégicos para criar um sistema natural capaz de absorver a água da chuva, filtrar sedimentos do solo e até reduzir custos com saneamento básico e melhorar a saúde pública. “Claro que existem situações extremas que não podem ser mitigadas, mas a infraestrutura natural deve fazer parte de uma estratégia para garantir cidades mais inteligentes e resilientes para o futuro.
Cidades esponjas
Um dos melhores exemplos nesse sentido são cidades-esponjas da China, que utilizam soluções naturais para drenar a água das áreas urbanas, e não coletar e jogar tudo rapidamente nos rios”, explica a paisagista urbana Cecilia Herzog, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
A ideia é simples: quanto mais cobertura vegetal uma cidade possui, maior a capacidade de drenar a água da chuva e reduzir o impacto das enchentes. Parques alagáveis, jardins de chuva, calçamentos permeáveis, telhados verdes, hortas comunitárias e praças-piscinas são algumas das estratégias que também já são usadas com sucesso no Brasil. O Parque Barigui, em Curitiba, é um exemplo de como é necessário respeitar os cursos d’água para evitar problemas sérios, gerando, inclusive, benefícios para a qualidade de vida da população. Ao preservar e restaurar ecossistemas naturais, além de buscar inspiração em soluções ancestrais, é possível reduzir o uso de infraestrutura cinza, diminuindo ainda custos para o poder público.
Dados e fatos
Entre 1980 e 2019, o número de desastres naturais no Brasil passou de 5 mil para aproximadamente 33 mil, afetando muitos municípios mais de uma vez.
O aumento desses eventos foi mais acentuado nos últimos 10 anos, com crescimento de 120% (de 15 mil para 33 mil) em relação à década de 2000. Episódios de seca e estiagem foram predominantes.
Episódios de seca nas regiões mais úmidas da Amazônia aumentam os riscos de incêndios florestais, um problema também recorrente no Cerrado e no Pantanal.
Entre 2013 e 2019, mais de 2,5 milhões de pessoas foram impactadas por episódios de seca ou chuvas torrenciais. Economicamente, esses desastres – sem considerar deslizamentos – representam prejuízo médio de R$ 6 bilhões ao ano.
Margens dos rios
Uma das estratégias mais importantes para reduzir os efeitos das enchentes é a proteção das margens dos rios, que são consideradas Áreas de Preservação Permanente (APP) de acordo com Código Florestal Brasileiro. A definição das faixas mínimas a serem protegidas visa garantir que as funções gerais dessas áreas sejam minimamente resguardadas, tanto no espaço rural quanto no urbano. Fruto do crescimento desordenado das cidades, a redução das APPs amplia os efeitos das enchentes e deixa a população mais exposta a prejuízos e tragédias.
Em dezembro, o Congresso Nacional aprovou o projeto de lei que transfere da União para os municípios a competência para definir as regras de proteção às margens de rios, lagos, lagoas e demais cursos d’água de cidades brasileiras. A medida é vista com preocupação pelos especialistas, pois deve facilitar as pressões locais para a modificação do uso destas áreas.
Portanto, é real que áreas verdes são capazes de reduzir o impacto das enchentes nas cidades.