Não estamos preparados e nem nos preparando
Na edição 287 – mês de outubro, uma pergunta estampada na capa – “Estamos preparados?” questionava sobre as condições em que as cidades se encontram em relação ao período chuvoso e seus impactos.
Na verdade já tínhamos a resposta, e ela é “NÃO”.
Prova disso foi o caos instaurado em várias cidades pelo Brasil afora nesse início de temporada – e olha que estamos apenas no começo.
Na nossa região algumas cidades já sofreram pesadamente o impacto das chuvas, que insistentemente já avisamos – enfrentaremos daqui pra frente eventos extremos e mais frequentes.
Em João Monlevade uma chuva de pouco mais de meia hora foi o suficiente para travar a cidade, inundar as principais avenidas e ruas e enchê-las de lama.
E olhem, não precisa ser nenhum expert para dizer onde está o problema.
E não é só em João Monlevade, rara as cidades que pelo menos iniciaram uma revisão geral no modelo de desenvolvimento estrutural.
E ai o tempo passa.
A Cidade vai se construindo num desordenado danado: aterra brejo, constroem em área de risco sob olhar míope das autoridades e a cidade vai, invade encostas, desmata morros, polui rio, entope de asfalto tudo quanto pode, finge que não vê os córregos e acumula, dia após dia, lixo, cujo destino certo é entupir bueiro e assorear os cursos d’água. Aí vem a abençoada chuva, e o que era para ser dádiva vira caos.
Barrancos caindo; comércios e escola alagadas; lama toma conta de ruas e avenidas, em muitos lugares a água dá no joelho e adentra as casas; andar de carro e de moto é um desafio. Isso é filme repetido, não é novidade para ninguém, os serviços de Meteorologia reprisam mais que novelas da Globo: novembro, dezembro, janeiro e fevereiro são meses de chuva, são as mesmas cenas, ano após ano.
A querida chuva
Para quem tem acordado desse transe estranho que atinge o ser moderno e este tem percebido a falta que a chuva faz, ver o céu descer ao chão deveria ser alegria e euforia. Chuva é frescor frente ao calor do verão, é reservatório enchendo, é água na torneira, é verde no pasto e na plantação, alimento no prato, luz acesa no quarto e peito cheio de cheiro de chão molhado. Chuva é menino brincando na enxurrada, é cachoeira da “Santa” que volta a brotar, é nascente que se recarrega. Chuva é a terra dando a luz, vida nascendo e também é esperança.
Mas se a chuva é certa na sua época por que quando chove as cenas se repetem?
A resposta está no descaso.
Se não se projetou uma cidade e não se concertou o que de errado já é percebido, há muitos que perdem os pertences para água; se não se trabalhou a educação ambiental, o lixo volta para dentro de casa; se não houve respeito, a natureza dá seu jeito de cobrar a conta.
É uma culpa compartilhada: é minha, é sua que lê esse texto, das empresas e do Poder Público. A única que não tem culpa nessa triste história é a abençoada e querida chuva.
Entra ano sai ano, os recursos públicos são gastos com os mesmos problemas e nenhum recurso é investido, efetivamente, no problema real, ou seja – naquilo que já sabemos, há muito, que é errado.
Mais uma vez, na edição passada, 287, desse periódico, viemos pontuando inúmeras situações que precisam ser urgentemente analisadas e atitudes precisam ser tomadas, antes que a coisa se torne insustentável e perdas sejam irreparáveis. Ainda não houve tragédias, mas elas já mostram a cara.
O problema é complexo, mas precisa ser encarado e bom lembrar que toda grande caminhada começa com um único e primeiro passo.