Gavião-pombo-pequeno: endêmico e ameaçado de extinção
- Aves do Piracicaba - João Sérgio
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- 30/08/2022
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Texto e fotos: João Sérgio
Hoje venho apresentar aos caros amigos leitores uma das aves de rapina mais raras da bacia do rio Piracicaba.
Ameaçado de extinção e endêmico de um “tipo” de Mata Atlântica conhecida como “Mata Atlântica de baixada”, o gavião-pombo-pequeno (Amadonastur lacernulatus) tornou-se vulnerável à extinção justamente por habitar originalmente as áreas onde concentram a grande maioria da população brasileira.
Esse pequeno e belíssimo gavião ocorre em áreas florestais do sul da BA até SC, do nível do mar até cerca de 900 m de altitude.
Na nossa bacia há pouquíssimos registros no wikiaves: somente um para Mariana, entre as serras do Caraça e da Gandarela; um registro duvidoso em Ipatinga (particularmente acredito ser outra espécie); e onze para Marliéria (onde temos o maior remanescente da Mata de baixada de MG, o Parque Estadual do Rio Doce).
O bioma da Mata Atlântica é o mais devastado do país e a maior parte do que restou sobrevive nas serras onde a topografia “mais difícil” tornou sua exploração econômica não tanto atrativa. Para vocês terem uma ideia, com exceção dos campos de altitude e de canga, toda nossa bacia era coberta por exuberante Mata Atlântica. E o que restou de significativo dela? Basicamente fragmentos em áreas montanhosas, de difícil acesso, como no Caraça e entorno, e em reservas florestais, nas baixadas, como o Parque do Rio Doce (onde, não por acaso, é último refúgio mineiro para espécies típicas de baixada e ainda mais raras que o gavião-pombo-pequeno, como é o caso que já apresentamos aqui do pica-pau-dourado-grande).
Bem pessoal, desde a chegada do colonizador europeu, a Mata Atlântica está sendo dizimada.
Começamos explorando, sem nenhum critério, algumas de suas imensas riquezas, como o pau-brasil, e, até hoje, essa exploração predatória (e burra) continua dizimando nossos tesouros naturais. Como um parasita cego pelo imediatismo do lucro rápido, continuamos avançando, expandindo as fronteiras da destruição à medida que nos empobrecemos do maior ativo que podemos ter, nossa biodiversidade. É no mínimo burrice a falta de planejamento nacional visando desenvolver remédios, produtos cosméticos, alimentícios entre tantas outras possibilidades de desenvolvimento sustentável. Destruímos possibilidades riquíssimas antes mesmo de tentar aproveitá-las, a troco de pasto ou soja pra boi, beneficiando poucos em detrimento de toda a humanidade, que não só precisa de novas e melhores drogas, mas principalmente, e urgentemente, combater a crise climática.
Claro que precisamos de recursos, mas para isso precisamos extinguir nossa biodiversidade, destruir até o absurdo de afetar o próprio clima?! Estamos cometendo suicídio através do ecocídio, eis a verdade nua e crua!
Mais um importante parênteses: Muitas espécies já foram extintas na Mata Atlântica, principalmente no chamado Centro de Endemismo Pernambuco, onde recentemente algumas aves entraram para a triste lista da aniquilação.
Corujinha-de-pernambuco, gritador-do-nordeste e limpa-folha-do-nordeste são exemplos de espécies que se perderam para sempre!
A Mata Atlântica que compreende o trecho entre RN e o rio São Francisco foi a mais devastada, restando pequenos e pouquíssimos fragmentos. Espécies endêmicas dessa região, como a choquinha-de-alagoas, estão à beira da extinção. No caso desse pequeno passarinho florestal, acredita-se que sua população não ultrapasse os 30 indivíduos, vivendo enclausurados numa mata de difícil acesso.
É isso pessoal! Há momentos da vida que temos que tomar decisões políticas que influenciam diretamente no clima, na nossa tão sofrida Natureza. Se a indecisão nessa hora aflorar, que tal pensar na opção menos danosa ao meio ambiente? Não esqueça que pequenas decisões fazem toda a diferença, como reciclar o lixo que muitas vezes produzimos sem imaginar suas consequências…