Trinca-ferro, a voz cobiçada que resiste no sertão

O famoso trinca-ferro (Saltator similis), também conhecido como joão-velho em algumas regiões de Minas, é uma ave canora, ou seja, canta que é uma beleza só!

Seu nome popular mais popular vem do bico bruto. Aliás, esse gênero não é mole não, bico-duro (Saltator aurantiirostris), bico-grosso (S. maxillosus) e bico-de pimenta (S. fuliginosus) são alguns “primos” que se destacam, não só pela força do bico, como também pela força do canto.

Mas seu poderoso bico não foi suficiente para livrá-lo da dureza de certos corações…

O trinca-ferro, como tudo que o homem cobiça, virou mercadoria.

Sua população (como as das demais espécies canoras) foi diminuindo progressivamente à medida que ia se tornando cada vez mais valioso.

Do prosaico costume popular de engaiolá-los, ao tráfico organizado, o trinca-ferro foi mais uma vítima do atraso e da ganância humana.

Hoje, podemos dizer que a conscientização ambiental, somada às novas tecnologias, estão tornando o triste costume de prender as aves cada vez mais limitado aos antigos e aos rincões.

E é muito graças a esse progresso geral do homem, que valoriza mais a liberdade da ave, que seu próprio egoísmo, que podemos reencontrar o trinca-ferro em praticamente toda bacia.

Vejam os números de registros dos usuários no Wikiaves: Barão de Cocais, Bom Jesus do Amparo, Jaguaraçu, Marliéria, Nova Era, São Domingos do Prata, Timóteo e João Monlevade contam com um registro cada, 2 em Coronel Fabriciano e em São Gonçalo do Rio Abaixo; 5 registros em Mariana; 7 em Ipatinga; 12 registros em Antônio Dias, 15 em Santa Bárbara; 18 em Itabira e 34 registros em Catas Altas e finalmente Ouro Preto, campeão com 35 registros do trinca-ferro no Wikiaves.

E, para finalizar, imaginem quando as florestas ainda cobriam boa parte da bacia e as incipientes aglomerações humanas ainda causavam pouco impacto. O canto do trinca-ferro devia invadir as casas, causando um misto de admiração e espanto, um verdadeiro e inesperado presente divino.

Acredite, é muito mais prazeroso ouvi-lo assim, inesperadamente, imprevisivelmente. E isso é possível com medidas simples, como plantar uma árvore frutífera no quintal.

Essa foto, por exemplo, do trinca-ferro se esbaldando num pé de ameixa foi feita em pleno Gutierrez, bairro central de BH!

Despeço-me com uma famosa frase entre os “passarinheiros”: “passarinho preso não canta, lamenta”.

tp

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