A pandemia revela que tudo depende da natureza
Uma das muitas coisas que aprendemos com o choque global da COVID-19 é como a humanidade está intimamente ligada à Natureza. Um agente patogênico carregado pela vida selvagem infectou mais de 526 milhões de pessoas (e ainda subindo), interrompeu cadeias de suprimentos globais, revelou injustiças sociais e expôs novas vulnerabilidades em nossos sistemas financeiros: os custos de nosso relacionamento rompido com a natureza estão surpreendentemente nítidos.
À medida que definimos nossa visão coletiva no sentido de uma recuperação global em 2022, reconhecer e tomar decisões baseadas na importância da natureza será essencial para construir um mundo melhor. Seja para nossa saúde física ou financeira, está claro que precisamos da natureza agora.
Não conseguiremos alcançar esses objetivos se não incluirmos a natureza como protagonista em nossas economias, sociedades e no nosso dia a dia.
Aqui estão algumas maneiras importantes com as quais o ano passado reforçou o papel central da natureza em nossas vidas – e o que isso significa para esse ano crítico, para a década e mais adiante.
SAÚDE:
Como impedir a próxima pandemia
A pandemia da COVID-19, que já matou 6,28 milhões de pessoas até agora, originou-se provavelmente do contato do ser humano com a vida selvagem. E diante da estimativa de outros 850 mil vírus transportados por pássaros e mamíferos, que também podem ser transferidos para seres humanos, nossas chances de enfrentar outra pandemia são grandes, caso não encontremos formas de limitar esse contato no futuro. Proteger a natureza é o melhor que podemos fazer para evitar futuras pandemias, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Como fazer isso? Podemos começar com uma melhor aplicação da proteção das reservas de vida selvagem, reprimindo o comércio ilegal de animais selvagens e fazendo alterações na política de uso da terra para limitar ainda mais o contato entre seres humanos, rebanhos e animais selvagens. Os impactos econômicos da COVID-19 até o momento são 1000 vezes maiores que o custo estimado para preservação, tais esforços justificariam o investimento.
TECNOLOGIA:
As mudanças climáticas podem quebrar a internet?
A maioria de nós tem passado muito mais tempo on-line nestes dois últimos ans e, mesmo assim, a infraestrutura da Internet continua invisível. Contudo, essa infraestrutura é real e é ameaçada pela mudança climática, uma vez que a elevação do nível do mar pode destruir pontos de conexão cruciais ao longo das costas do mundo. Incêndios incontroláveis exacerbados pelo clima ameaçam uma tecnologia ainda mais fundamental, a eletricidade, como puderam constatar os moradores dos EUA no outono último, quando as empresas de energia desligaram linhas de transmissão na Califórnia para diminuir a propagação dos incêndios.
A mudança climática já é uma realidade mas, se agirmos rapidamente para limitar os aumentos de temperatura, poderemos reduzir alguns dos seus impactos. As empresas de tecnologia e outras grandes corporações podem desempenhar um papel importante aqui aproveitando seu poder de compra para acelerar a transformação da energia renovável e ajudar a garantir que novas plantas de energia renovável sejam instaladas de modo a não prejudicar os habitats naturais. Isso é particularmente importante porque não podemos manter a mudança climática dentro de limites seguros sem mais investimentos na Natureza, protegendo, restaurando e administrando paisagens naturais e assim, as zonas alagadas poderiam proporcionar até um terço das reduções de emissões de que precisaremos na próxima década.
ALIMENTOS:
Os consumidores desejam sistemas alimentares mais verdes e o setor de alimentos provavelmente quer isso mais ainda
A COVID-19 desferiu um grande golpe nas cadeias de suprimentos das empresas de alimentos e bebidas de todo o mundo, mas pesquisas recentes demonstram que o setor sabe disso e está investindo no risco maior que ameaça nosso sistema alimentar: a saúde ambiental. Cada vez mais, os tomadores de decisão desses setores consideram os riscos ambientais como ameaças operacionais diretas e estão investindo nesse sentido. Na verdade, em todo o mundo, as empresas de alimentos estão investindo mais em sustentabilidade, não menos. Desde agricultores que implementam práticas de cultivo que promovem a saúde do solo até grandes exportadores que investem em produtos agrícolas livres de desmatamento, vemos o setor investir mais na produção de alimentos favorável à natureza, embora ainda seja necessária uma mudança mais rápida e mais abrangente nos setores de alimentos e bebidas.
VIAGENS:
A natureza precisa de turistas?
Quando as viagens em todo mundo sofreram grande queda no ano passado, houve uma grande redução nas emissões. Mas houve também uma diminuição no financiamento das reservas naturais, muitas das quais dependem totalmente da receita do turismo, além da devastação das comunidades adjacentes, que também dependem do turismo. O ecoturismo provavelmente continuará a ser um setor importante em algumas regiões, mas precisamos de outras fontes de financiamento e a natureza pode ajudar a proporcioná-las.
Felizmente, existem muitas formas de a Natureza gerar valor e sustentar as comunidades locais.
FINANÇAS
Salvando o sistema bancário da extinção
Mais de 44 trilhões de dólares da economia global dependem da natureza, o que significa que não podemos reconstruir economias saudáveis sem investir substancialmente no nosso planeta. Infelizmente, há muito tempo não investimos o suficiente na natureza. Em termos globais, precisamos de mais 700 bilhões de dólares por ano para financiar a proteção e a restauração da natureza.
Trata-se de um número frio, mas a COVID-19 na verdade acelerou a tendência no sentido de investimentos sustentáveis, segundo a empresa de consultoria PwC, que prevê que 77% dos investidores institucionais comprarão apenas fundos ESG até 2022. Contudo, ainda precisamos de mais ação da parte de líderes governamentais para incrementar o financiamento favorável à natureza e criar mais incentivos ao financiamento privado. O redirecionamento do financiamento público para subsídios favoráveis à natureza, por si só, poderia oferecer até 40% dos recursos necessários para preencher a lacuna de financiamento da natureza.
Fonte: TNC – The Nature Conservancy é organização não governamental que trabalha em escala global para a conservação do meio ambiente.