Mina Apolo: Vale inicia nova investida

Ambientalistas contra atacam e prometem resistência em todas as frentes

Um megaprojeto da mineradora Vale denominado “Apolo”, locado entre as cidades de Caeté e Santa Bárbara (inicialmente o projeto abrangia mais cidades) mais uma vez toma conta dos noticiários diante sua dimensão e também frente ao impacto ambiental que o empreendimento representa.

O nome do projeto, “Apolo”, que na mitologia Grega representa o Deus da Guerra, pode ser mera coincidência, mas o que se desenha, assim como foi desde o nascimento da ideia de se minerar no entorno da Serra do Gandarela, é uma verdadeira “guerra” entre a mineradora, ambientalistas, entre a água e a escassez hídrica.

No início de setembro a Vale protocolou na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais – SEMAD, o novo Estudo de Impacto Ambiental – EIA e Relatório de Impacto Ambiental – RIMA para a retomada do licenciamento do Projeto Apolo que segundo ela tem um “novo conceito”.

O projeto, que teve seu licenciamento iniciado em 2009, teria passado por diversas revisões para atender às mudanças na legislação e solicitações da sociedade civil. “A nova proposta é resultado de pesquisas e evoluções nas práticas de engenharia para uma mineração mais segura e sustentável”, informa a empresa.

O novo Projeto Apolo está localizado entre os municípios de Caeté e Santa Bárbara e consiste na implantação de mina, usina e ramal ferroviário de 8 km para conexão à Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM). O empreendimento prevê a produção de cerca de 14 milhões de toneladas de Sinter Feed por ano à umidade natural, ou seja, sem uso de água no beneficiamento do minério de ferro.

Ao Tribuna do Piracicaba a empresa fala em “novo conceito do Projeto Apolo, agora sem barragem”.

Segundo a Vale, a proposta atual incorpora soluções para uma operação mais sustentável para o meio ambiente e mais segura para trabalhadores e comunidades e informa ainda que o projeto não interfere nos limites do Parque Nacional da Serra do Gandarela.

Ainda conforme a empresa a versão atual também traz reduções significativas na área do projeto, no consumo de água e na emissão de carbono. “O novo Projeto Apolo ocupa uma área 32% menor do que a proposta inicial de 2009, passando de 2.000 hectares para 1.368 hectares. A área do empreendimento também não interfere com os limites do Parque Nacional da Serra do Gandarela, criado em 2014 com uma área de 31.270 hectares, dos quais cerca de 15.000 hectares estão em processo de possível doação pela Vale para o ICMBio”, pontua a empresa.

Segundo a Vale o consumo de água reduziu em cerca de 90% devido ao processamento a seco do minério de ferro. “Atualmente, a necessidade do insumo para o projeto está prevista em aproximadamente 100 m³/h, contra 1.900 m³/h estimados em 2009.

Números

A empresa informa que a previsão de investimento para implantação do projeto é de US$ 800 milhões, mais de R$4 bilhões. O empreendimento deve gerar cerca de 2.600 empregos temporários no pico das obras, com priorização de mão de obra local. Na fase de operação, serão cerca de 740 vagas de empregos. O novo Projeto Apolo irá gerar cerca de R$ 151 milhões em impostos (CFEM e TRFM) e adição de R$ 5,8 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro por ano.
Diálogo com a comunidade
A Vale iniciou, em julho, apresentações do novo conceito do Projeto Apolo para comunidades vizinhas ao empreendimento, entidades civis e para o poder público municipal de Caeté e Santa Bárbara. “A empresa manterá o relacionamento com esses grupos, além de outros setores da sociedade civil, para esclarecimento de dúvidas e discussão de soluções relacionadas ao projeto. A Vale reforça sua atuação pautada pelo diálogo, transparência e escuta ativa nos territórios onde está presente”, concluiu a assessoria da empresa.

Para especialistas o discurso não convence

Para inúmeros cientistas, entre estes, biólogos, geólogos, botânicos, zoólogos entre outros o que a empresa chama de novo projeto foi apenas uma forma de dar prosseguimento com sua “sede” por minério em detrimento da sobrevivência de milhões de pessoas que dependem da água produzida na região da Serra do Gandarela, não importando se reduziu a área a ser minerada e ou o consumo de água para as operações, sendo que o que se tem que considerar é o impacto de qualquer intervenção na região, que precisa ser protegida a qualquer custo.

“Fábrica” de água

Com áreas conservadas de Cerrado e Mata Atlântica, 270 cavernas localizadas, mais de 300 espécies identificadas entre onças parda e pintada, lobo-guará, veado campeiro e anta, a serra do Gandarela abriga ainda um dos sistemas mais ameaçados do país: a canga.

Essa formação é como uma crosta ferruginosa que fica por cima do solo, resistente à erosão e porosa – permite que a água da chuva infiltre e forme grandes aquíferos. Ela é encontrada em poucos lugares do país e corre o risco de sumir por, numa triste coincidência, ocorrer em zonas de interesse da mineração.

“Daqui saem as águas que abastecem duas bacias hidrográficas importantes para o país, a do Doce e do São Francisco, ambas já bem impactadas por rejeitos da mineração”, informa o geólogo Paulo Rodrigues.

É do rio das Velhas, afluente do São Francisco, que vem a água que abastece 70% da população de Belo Horizonte, além de outras cidades da região metropolitana. Esse rio poderá ser impactado com o projeto Apolo.

Além da ameaça à região Metropolitana de Belo Horizonte a região da Bacia do Piracicaba seria impactada imediatamente tão logo se inicie as intervenções na região pleiteada, segundo especialistas, com redução considerável do volume das águas que formam os mananciais que abastecem cerca de 800 mil pessoas, incluindo o Vale do Aço.

tp

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