Gavião que pega macaco
- Aves do Piracicaba - João Sérgio
- tp
- 30/06/2021
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Texto: Marcelo Vasconcelos Fotos: João Sérgio
É fato bem documentado que as atividades humanas causam profundas modificações nas redes de interação da natureza. Poucos animais e plantas tornam-se vencedores nesta guerra, geralmente aqueles que suportam viver em áreas degradadas. Dentre a maioria dos perdedores, destacam-se aqueles organismos que se encontram no topo das teias alimentares, ou seja, grandes predadores. Deixando de lado os ursos-polares, leões e tubarões-brancos, vamos tratar aqui de um bicho menor e alado: o gavião-pega-macaco (Spizaetus tyrannus).
Este majestoso rapinante ainda resiste bravamente em nossa bacia, contando com registros recentes em vários municípios. É facilmente identificado pela coloração predominantemente negra, seu característico penacho, cauda longa com barras cinza-esbranquiçadas e asas amplas com extremidades arredondadas e barramento esbranquiçado. Pode ser observado sobrevoando vastas áreas durante as horas mais quentes do dia, enquanto emite sua característica vocalização. Apesar do nome, não preda apenas macacos, incluindo em sua dieta aves de médio a grande porte, além de répteis e mamíferos arborícolas, a exemplo de esquilos, morcegos, roedores e gambás. Talvez tal versatilidade tenha impedido que a espécie desaparecesse daqui nos últimos anos, após o surto de febre-amarela que causou expressivo declínio nas populações de macacos na Mata Atlântica mineira.
O gavião-pega-macaco pode ser observado tanto em baixadas quanto em serras, mas depende da existência de florestas para encontrar suas presas. Apesar de ter um elevado número de registros recentes neste bioma, sua área de vida é bastante ampla e, por este motivo, muitas vezes um mesmo exemplar acaba sendo avistado em diferentes regiões, dando a falsa impressão de que a espécie é abundante, não necessitando de proteção. Pelo contrário, aqui em nosso estado o gavião-pega-macaco consta na lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção, sofrendo com a degradação das florestas e com a perseguição por parte de algumas pessoas que o veem como potencial predador de animais domésticos. Assim, é necessário conscientizar a todos que um predador de topo tem papel fundamental no ecossistema, atuando no controle das populações de suas presas.
Olhe para o céu, talvez ele esteja passando por aí!
Registros na Bacia do Piracicaba conforme mapa do Wikiaves:
Alvinópolis; Antônio Dias; Barão de Cocais; Bela Vista de Minas; Bom Jesus do Amparo; Catas Altas; Itabira; Mariana; Ouro Preto; Rio Piracicaba; Santa Bárbara; São Gonçalo do Rio Abaixo.
Agradecimentos especiais ao amigo Luiz Salvador-Jr. pela importante revisão do texto.