Tucano-de-bico-preto; o plantador de floresta

Estreia do novo colunista no Tribuna do Piracicaba – Marcelo Vasconcelos, assinando a coluna “Aves do Piracicaba”.

Texto: Marcelo Vasconcelos / Fotos: João Sérgio

Não é fácil de se ver em nossa bacia, mas ainda resiste diante dos desmatamentos e incêndios criminosos. João Sérgio, o fotógrafo da coluna, comunicou que ouviu sua vocalização estridente numa mata ciliar do rio Piracicaba, no município homônimo. O autor já o encontrou em Mariana, na localidade de Santa Rita Durão, e há registro histórico na foz do rio Piracicaba, no Parque do Rio Doce.

Tem tantas cores bonitas que é difícil de descrever o tucano-de-bico-preto (Ramphastos vitellinus ariel ou, simplesmente, Ramphastos ariel). Chama a atenção sua garganta alaranjada, dividida do brilhante peito vermelho por uma estreita faixa amarela. A barriga, o dorso e a cauda são de cor negra, destacando-se as coberteiras inferiores e superiores da cauda, de cor vermelha. O padrão facial também é contrastante, tendo o bico negro (como o nome indica) com uma faixa amarela em sua base e um triângulo azulado na parte superior. Os belos olhos azuis são ladeados por uma pele nua de cor vermelha. Para completar a obra de arte, os pés são azuis-metálicos.

É uma ave onívora, isto é, tem uma dieta extremante variada. Consome diversos tipos de animais, incluindo ovos e filhotes de aves. Além disso, alimenta-se de uma ampla gama de frutos, dentre eles, os do palmito-juçara. E é justamente por apresentar estes hábitos alimentares que o tucano-do-bico-preto representa um elemento-chave na complexa rede de interações da Mata Atlântica, controlando populações de suas presas e dispersando sementes de plantas nativas de nossas florestas.

Já o ingrato ser humano não dá valor aos serviços ecossistêmicos prestados pelo tucano, reduzindo a cobertura das matas a pequenas ilhas florestais isoladas em amplas áreas de pastagens, plantações e cidades. Por falta de recursos alimentares ao longo do ano e pela dificuldade em encontrar ocos de árvores grossas para reproduzir, o tucano-de-bico-preto vai desaparecendo gradualmente dos pequenos fragmentos de floresta, deixando, assim, de cumprir seus importantes papéis ecológicos. Para piorar a situação, ainda sofre pressão de caça e captura para o tráfico ilegal de animais silvestres. Não é à toa que o tucano-de-bico-preto consta na lista global de espécies ameaçadas de extinção.
Quem ainda tiver a oportunidade de avistar o tucano-de-bico-preto em nossas matas, pode se considerar afortunado, não apenas por sua beleza, mas por ser um indicador da saúde e da integridade do meio ambiente.

tp

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