“Nos sujamos a água que você consome”

Chega a ser cômico, não fosse trágico, o fato do ser humano sujar a própria água que consome: “Cagamos na água que bebemos”.

Um triste exemplo é o que acontece com os monlevadenses, que consomem água retirada do rio Santa Bárbara e do rio Piracicaba.

São cerca de 80 mil habitantes consumindo água de dois rios que recebem esgoto das cidades de Barão de Cocais, Santa Bárbara, São Gonçalo do Rio Abaixo, Mariana – Santa Rita Durão, Alvinópolis – Fonseca e Rio Piracicaba.

Para complicar ainda mais a situação, os próprios monlevadenses poluem as águas que eles mesmo consomem – isso porque o Córrego Boa Vista, altamente poluído com esgoto e todo tipo de lixo, deságua há poucos metros da captação do DAE no rio Santa Bárbara e o córrego Jacuí, também poluído por toda região do Cruzeiro Celeste, deságua acima da captação da ArcelorMittal.

E como um ciclo vicioso, as cidades citadas a montante (acima) sujam as águas para as cidades a jusante (abaixo), e todo mundo vai sendo contaminado por todo tipo de parasitas, vírus, bactérias e químicos.

Qual parte do “a cada R$1 real investido em saneamento, economiza-se R$4 reais em saúde” as autoridades não entenderam ainda?

“Vergonha”

É uma vergonha as cidades da Bacia do Piracicaba, ricas em se comparando com o restante do Brasil, não terem, até o momento, um sistema no mínimo básico de tratamento do esgoto doméstico.

Apenas as cidades de Itabira e Ipatinga contam com quase a totalidade de seus esgotos tratados. Timóteo e Coronel Fabriciano inauguraram recentemente uma ETE consorciada – tratando cerca de 80% do esgoto das duas cidades e as cidades de Catas Altas e Jaguaraçu possuem ETEs que atendem uma pequena parte da cidade, mas buscam aumentar a capacidade com novas instalações. Catas Altas teve alguns problemas com sua ETE, mas já prepara para a construção de uma nova ETE que tratará 90% de todo esgoto do município.

João Monlevade patina com a construção da ETE Carneirinhos – que deveria ter sido entregue agora em junho – mas se encontra com obras em andamento e bem atrasadas.

A ETE Cruzeiro Celeste, também em Monlevade, na região que polui o córrego Jacuí, permanece operando em capacidade mínima devido à falta de interceptores.

Mariana

Uma vergonha – a primeira cidade de Minas, a primeira Capital de Minas, até hoje não contar com sistemas de tratamento de esgotos. O Distrito de Santa Rita Durão, o primeiro núcleo urbano que recebe o Piracicaba, pouco depois de sua nascente, inicia o trágico ciclo de poluição com esgoto na bacia.

Alvinópolis

Pouco abaixo de Santa Rita Durão, dando sequência ao descaso com as águas, encontra-se o distrito de Fonseca, que vergonhosamente continua lançando esgoto in-natura no Piracicaba.
Outrora diversas praias do Piracicaba naquela região eram utilizadas como lazer pelas populações da sede e do distrito.

Barão de Cocais e Santa Bárbara

Uma vergonha as tricentenárias Barão de Cocais e Santa Bárbara, cidades históricas e ricas, até hoje não contarem com sistema de tratamento de esgoto – ambas poluem as águas limpas que recebem das nascentes do Rio São João, do Ribeirão São Miguel, do Rio Caraça, Rio Conceição e por consequência poluem o lago de Peti e sujam as águas para os municípios de São Gonçalo do Rio Abaixo, João Monlevade, Nova Era, Antônio Dias, Timóteo, Coronel Fabriciano e Ipatinga.

São Gonçalo do Rio Abaixo

Uma vergonha a cidade considerada o “Eldorado do Médio Piracicaba”, São Gonçalo do Rio Abaixo, com arrecadações astronômicas, ter o privilégio de ser banhado por dois rios – Una e Santa Bárbara e até o momento não tratar o esgoto da cidade – lançando-o in natura nestes cursos dágua.

Uma ETE em São Gonçalo está praticamente pronta, faltando apenas a construção de intercessores, mas até o momento a obra não andou e a cidade continua jogando esgoto sujando as águas para as cidades de João Monlevade, Nova Era, Antônio Dias, Timóteo, Coronel Fabriciano e Ipatinga.

João Monlevade

Uma vergonha, uma das cidades mais ricas do Médio Piracicaba, João Monlevade, que capta água dos rios Santa Bárbara e Piracicaba para abastecer os quase 80 mil habitantes, recebe esgoto e por sua vez lança esgoto nestes rios, poluindo as águas para as cidades de Nova Era, Antônio Dias, Timóteo, Coronel Fabriciano e Ipatinga.

Nova Era, Bela Vista de Minas e Rio Piracicaba

Uma vergonha, três cidades que devido o porte das mesmas e suas localizações geográficas, somadas à topografia de seus núcleos urbanos, poderiam já terem implantado ETEs e transformado o Piracicaba em fonte de lazer, geração de emprego e renda – devido a beleza do rio e seu entorno nessas localidades, até o momento apenas sofrem com as cheias e com o verdadeiro esgoto que o rio se transformou.

Bela Vista de Minas também tem o privilégio de contar com dois rios – o Piracicaba e o Santa Bárbara – sendo palco do encontro destes, na comunidade de Capela Branca – onde poderia ser um grande espaço de prática de esportes aquáticos.

Essas cidades poluem as águas para João Monlevade, Nova Era, Antônio Dias, Timóteo, Coronel Fabriciano e Ipatinga.

Antônio Dias

Uma vergonha uma cidade que possui duas usinas hidrelétricas, de Guilman Amorim e Sá Carvalho, um grande território, e tem sua sede cortada pelo Piracicaba, continuar jogando esgoto em suas águas.

Se limpo, o lago formado por essas usinas poderiam se tornar fonte de emprego e renda, produzindo mais qualidade de vida à população, além de reduzir as taxas de doenças causadas pela falta de saneamento.

Lembrando que, segundo historiadora local, a beleza do Piracicaba na região foi retratada em publicações internacionais nos idos do século XVIII e XIX.

Antônio Dias polui as águas para Timóteo, Coronel Fabriciano e Ipatinga.

Exemplo

Timóteo, Coronel Fabriciano e Ipatinga, cidades que se encontram na foz do Piracicaba, e que recebem todo esgoto de suas irmãs da parte de cima da bacia, dão exemplo e vem desenvolvendo diversas ações objetivando tratar as águas para lança-las para quem se encontra abaixo.

Mas todo esforço destes é inócuo caso as cidades de cima não comecem a tratar seus esgotos.

Responsabilidade

Vale destacar que a responsabilidade desta vergonha, não pode ser atribuída apenas aos poderes executivo, legislativo e judiciário atuais, mas os antecessores e a todas as populações – que no final é justamente a que sofre com essa situação.

Muito menos aos secretários de Meio Ambiente que vivem remando contra a maré e enxugando gelo.

Novos gestores e legisladores

Estamos entrando em um novo processo eleitoral. É vital saber o que pensam e o que propõem para mudar o quadro de descaso ambiental esses que disputam cargos.

Afinal, temos que colocar na cabeça de uma vez por todas – Água é vida – água limpa é saúde, é riqueza, é prosperidade.

Quer saber se uma cidade é desenvolvida? Basta olhar seus cursos dágua.

tp

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