Expedição Piracicaba – Há um ano

Expedição Piracicaba – Pela Vida do Rio – 1 ano – Por Fausto Barros

Exatamente a um ano atrás, encerrava-se a 2ª expedição Piracicaba: pela vida do rio. Eu, que acompanhei de longe a expedição de 99, fazia parte em 2019 da equipe de caiaquistas e auxiliava também como historiador.

Como disse o poeta alemão Goethe, “quando você se entrega de corpo e alma a um projeto que deseja muito, o universo conspira a seu favor”. Foi uma coincidência positiva a expedição se realizar justamente em meu ano sabático , do contrário, por mais que desejasse, não poderia participar devido ao calendário escolar.

Visitamos a nascente do nosso querido rio, navegamos por sua cabeceira e em sua foz. Percorremos vilas e cidades, conversamos com ribeirinhos e autoridades, colhemos louros e aplausos. Mas o que ficou dessa experiência?

Pessoalmente, ficou o encantamento ao navegar pelas águas do rio, mesmo poluídas. O brilho nos olhos foi natural pois sempre achei que nasci com espírito indígena e tenho uma paixão extraordinária por este rio em especial. Mas pensei, ao passar por vários trechos, que se todos pudesse vivenciar a experiência que eu presenciava, aposto que a maioria das pessoas sentiria o mesmo. O rio é lindo! O ambiente que o compõem e tão lindo quanto.

Politicamente, sei que a expedição deu seu recado, inúmeras pessoas engajadas na causa ambiental se envolveram, visitamos todas cidades da bacia dizendo que é possível fazer alguma coisa para manter o rio vivo. No entanto, da parte de quem mais tem responsabilidades, o poder público, meu sentimento foi de completa desilusão.

Até onde me recordo dos discursos políticos, nenhuma autoridade se comprometeu com algo de concreto, mesmo que fosse uma uma única ação. As palavras do prefeito de Mariana na abertura da expedição falavam da vida em primeiro lugar, ante ao progresso desenfreado. Palavras bonitas, mas que sem ação, não germina novas ideias e atitudes. Lindas também foram as palavras do Thobias Almeida, lidas na abertura por um de nossos integrantes, o Flamínio Guerra.

Promessas não faltaram, em cima de um palanque tudo parece possível

Após a expedição, intensifiquei minhas pedaladas estendendo para outras cidades próximas meu olhar sobre a situação da bacia do Piracicaba.
Como essa região é judiada! 300 anos de mineração, mais tarde a extração mineral, siderúrgicas que demandam carvão (e lá se foi nossas matas, nossa fauna), numa geografia montanhosa, a erosão abre covas que soterram os córregos e mananciais. Tudo isso nos legou uma cultura do descaso com o rio, com a natureza. Literalmente cagamos e mijamos aonde devíamos ter lazer, prazer, sentir bem. Tantos lugares lindos, tanta água podre. Que tristeza!

As fiscalizações pouco ocorrem em razão da barganha pelo voto, a natureza sempre fica em segundo plano nessa hora. Só enxergamos o gado, o eucalipto, o fogo predomina nessa época do ano, mesmo com o aumento da prática esportiva (ciclismo, corrida). As ruas sujas, lixo pra todo lado, na cidade, nas rodovias, nos rios… meu Deus! Por que fazemos isso?

Quantas outras expedições serão precisas? Quantos outros puxões de orelha? Por aqui, um candidato falou em tornar o rio Piracicaba turistável e banhável… ouvi risos desdenhosos de eleitores que enxergam isso como utopia. Vejo pessoas simples judiando do rio diariamente como se nunca tivesse ouvido algo conscientizador. Confesso que mesmo estudando sociologia, tenho dificuldades em compreender porque isso acontece.

Só sei de uma coisa: ou as pessoas que se importam com esta causa arregaçam suas mangas e começam a fazer o que for possível, ou já era. Se depender da vontade política ambiental em nossa região, estaremos vendo a 20ª expedição passar e lamentando a mesma sorte.

Amigos do rio, uni-vos!

Fausto Augusto é professor.

tp

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