Meio ambiente teve o pior ano de sua história no Brasil
País sofreu com desastre da Vale em Brumadinho, desmatamento da Amazônia, óleo no Nordeste, pesticidas no sul e fogo no Pantanal
Para o meio ambiente, 2019 ficará marcado na História como o ano em que o Brasil trocou o verde e amarelo das florestas e o azul e branco dos mares pelo marrom da lama de Brumadinho, o cinza das queimadas na Amazônia e no Pantanal e o preto do óleo que cobriu as praias do Nordeste e parte do Sudeste e ainda uma onda de pesticidas e agrotóxicos sem precedentes no sul do país. Nenhum outro ano, em toda história, registrou tamanha sucessão de desastres ambientais no país.
A barragem de Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho (MG), rompeu em 25 de janeiro, arrasou o Rio Paraopeba e amplificou em perdas de vidas humanas a tragédia de Mariana, em 2015. Há 270 mortos, destes 13 permanecem desaparecidos.
A partir de maio, o desmatamento da Amazônia aumentou sem controle. O mundo viu o resultado nas chamas das queimadas, cuja fuligem escureceu o céu de São Paulo em agosto, e nos números oficiais do Inpe. O instituto detectou o maior índice de devastação da floresta das últimas duas décadas — um avanço de 29,5%, em apenas um ano, atingindo 9.762 km².
Agosto também viu chegar o óleo nas praias da Paraíba. Em dezembro, ainda havia registros. No maior desastre em extensão com óleo do país, todo o Nordeste, Espírito Santo e norte do Rio de Janeiro foram atingidos. Mais de 3 mil quilômetros de litoral foram afetados.
No segundo semestre, enquanto o óleo poluía o litoral nordestino, outro patrimônio natural brasileiro, o Pantanal, ardia em chamas. O bioma registrou o maior número de focos de fogo (9.997) dos últimos 14 anos, um aumento de 492% em relação a 2018, segundo o Inpe.
Já no sul do país o problema foi o uso indiscriminado de agrotóxicos e pesticidas.
O ritmo de liberação de agrotóxicos no Brasil chamou a atenção do relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para a área de “Implicações da gestão e eliminação ambientalmente racional de substâncias e resíduos perigosos”, Baskut Tuncak. Ao encerrar uma missão oficial após 11 dias no país, ele criticou a liberação de novos pesticidas pelo governo Bolsonaro. Em menos de um ano de mandato, a gestão autorizou mais de 400 produtos a circularem no mercado nacional.
Diante dos fatos, 2019 deixa para 2020 sua herança maldita. Brumadinho, como Mariana, permanece impune. A devastação continua nas alturas na Amazônia. A derrubada da floresta entre agosto e novembro, que não foi incluída no último levantamento do Inpe, foi 100% maior do que no mesmo período de 2018. O óleo continua um mistério, e o país ainda não definiu um plano de contingência para desastres desse tipo. O ano é novo. Mas já nasce com problemas velhos.