Simulado de emergência de barragem pára Piracicaba
Rio Piracicaba – Apesar do investimento considerável em organização, sirenes com baixo volume marcaram o simulado de emergência de barragens que reuniu 1.774 moradores em 45 pontos de encontros em Rio Piracicaba.
No dia 30 de novembro, um sábado, a cidade de Rio Piracicaba, após mais de 25 anos convivendo com os perigos das barragens, foi contemplada com um treinamento de evacuação e salvamento conforme prevê a legislação federal.
A lei que obriga a realização de simulados de auto salvamento data de setembro de 2010, promulgada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas só após as tragédias de Mariana, com rompimento da barragem de Fundão em Bento Rodrigues em 2015 e em janeiro desse ano com o rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão em Brumadinho, as autoridades passaram a cobrar da vale a realização dos exercícios.
No caso de Rio Piracicaba, desde 2016 o Tribuna do Piracicaba – A Voz do Rio, vem cobrando tanto da Vale, quanto das autoridades, as providências necessárias para garantir a segurança e um mínimo de tranquilidade aos moradores.
Após diversas matérias e cobranças, em 2017 foi iniciado um longo processo que culminou com o simulado.
Objetivo
O objetivo da atividade foi informar a população residente nas Zonas de Autos salvamento (ZAS) e de Segurança Secundária (ZSS) das barragens Diogo, Monjolo e Porteirinha sobre como proceder em caso de emergência de barragem. O treinamento teve duração de uma hora, das 15h às 16h. Foram instalados, na ocasião, 45 pontos de encontro em áreas seguras do município.
O simulado faz parte do Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM) e do Plano de Contingência e Evacuação de Rio Piracicaba, este último elaborado por uma equipe multidisciplinar formada por representantes das Defesas Civis Estadual e Municipal, Prefeitura de Rio Piracicaba, Vale, polícias Militar e Civil, Corpo de Bombeiros Militar e Ministério Público.
Os pontos de encontro (PE) são locais onde as pessoas devem se dirigir quando ouvirem as sirenes alertando pra uma situação de emergência. Esses pontos serão onde as equipes de resgate seguirão também caso ocorra um desastre, por isso a importância do treinamento para que as pessoas saibam como proceder e para que as autoridades envolvidas possam verificar o funcionamento da evacuação e corrigir possíveis falhas.
O simulado
Após uma campanha de comunicação e uma grande mobilização que deixou a cidade preparada, às 15 horas em ponto as 12 sirenes instaladas no município foram acionadas dando início ao exercício que segundo o levantamento da Defesa Civil 1.774 moradores atenderam ao chamado e participaram do treinamento.
Esse número corresponde a 38% da população que reside na Zona de Auto Salvamento (ZAS).
A ação, por força de lei, teve caráter preventivo e foi realizada pelas Defesas Civis Estadual e Municipal, Prefeitura de Rio Piracicaba e pela mineradora Vale, com apoio das Polícias Civil e Militar, do Corpo de Bombeiros Militar.
A Vale, além de ser a responsável por custear toda a operação, participou da atividade prestando o apoio logístico aos órgãos, além de, utilizando seus funcionários, acolher e orientar a população nos 45 pontos de encontro distribuídos pela cidade.
Os pontos de encontros foram preparados para receber a população, com tendas, água, banheiros e toda uma estrutura de recepção, com os participantes sendo recebidos por funcionários da Vale e da prefeitura.
O ponto de encontro que mais recebeu proporcionalmente moradores foi o PE 13, onde era esperado apenas um morador mas apareceram 15. Já o com menor participação foi o PE 29, onde apenas 8% do esperado compareceu.
Polícia Militar e Bombeiros Militar.
Enquanto a população participava do simulado, a Polícia Militar que contou com reforço mantinha a segurança das vias, que foram interditadas, promovendo operação presença nas localidades evacuadas.
Já o Corpo de Bombeiros Militar, com equipes distribuídas ao longo da Zona de Auto Salvamento permaneceu de prontidão objetivando atender qualquer ocorrência que exigisse socorro imediato.
As 16 horas foi dado encerrado o treinamento com os moradores retornando às suas residências.
Avaliação
Duas coletivas foram realizadas pela organização do simulado – sendo uma às 11:30 horas, quando foi repassado todo procedimento dos exercícios à imprensa e outra às 17 horas para apresentação do balanço da operação.
Diante a imprensa, na Central de Comando da operação instalada no Bairro Mariana de Vasconcelos (Chacrinha), acima do Clube Campestre, a Defesa Civil Estadual validou o simulado, quando o Coordenador Adjunto da Defesa Civil de Minas Gerais, Tenente-Coronel Godinho falou sobre a participação da população.
Conforme o Tenente-Coronel Godinho, “foi um simulado espetacular. Apesar de 38%, nós consideramos como meta cumprida e como missão cumprida, atingimos os objetivos”, comemorou.
Continuando prestando as informações sobre o balanço do treinamento ele disse que a primeira pessoa a chegar a um Ponto de Encontro, após acionamento das sirenes, foi aos 5 segundos e o último aos 54 minutos – tempo anormal e considerado preocupante pelo tenente que solicitou à Vale e à Defesa Civil para procurar esta pessoa e investigar o ocorrido.
Godinho ainda falou de uma situação apontado pelos controladores dos Pontos de Encontro e também levantada pela imprensa que cobria o simulado – ao som inaudível das sirenes – em todos os pontos verificados pela reportagem do Tribuna – que visitou cinco no total, mas colheu informações de outros 8 pontos, em todos as observações foram as mesmas – som muito baixo: “Não deu para ouvir o áudio e a sirene foi muito baixa – não escutaria se estivesse dentro de casa com uma chuva, ou dormindo um sono pesado, com um som de televisão ligado”, disse Geraldo Guimarães, morador do bairro Louis Ensch (Samitri).
Já o morador do bairro Bom Jesus, mas que se encontrava no centro da cidade, onde tem um comércio, Geraldo dos Reis, disse também que, mesmo esperando o alerta, ficou preocupado com o volume: “Não chama a atenção de ninguém”, questionou.
Diante dessas observações o Tenente-Coronel disse que será dado à Vale um tempo para ajustes, um tempo suficiente para identificar os problemas e proceder com os reparos.
Continuando o balanço ainda foram registrados três atendimentos médicos, sendo dois no local é um caso que foi hospitalizado, sendo uma senhora de idade avançada que devido a pressão alta e seu histórico médico, foi encaminhada para observação.
Ainda durante a apresentação dos resultados o Tenente-Coronel Barcelos, Comandante da 17º Cia de Polícia Militar Independente de João Monlevade, relatou não ter havido nenhuma ocorrência policial em virtude do simulado.
Novos simulados
Durante a coletiva a reportagem do Tribuna questionou sobre os prazos para a realização dos treinamentos e quando deverão ser repetidos.
Segundo Godinho, conforme legislação vigente o prazo é de um em um ano, portanto um novo simulado deverá ser programado para novembro de 2020 ou data próxima.
Aproveitando o questionamento o Tenente-Coronel informou também que irão acontecer simulados específicos para escolas, creches e instituições específicas.