Seminário do Rio Doce revela continuidade de tragédia

Seminário em Governador Valadares mostrou que após 4 anos a tragédia-crime do Rio Doce ainda está em curso.

Governador Valadares – Pelo quarto ano consecutivo, a UNIVALE e parceiros (universidades públicas e ONGs) discutiram a situação da população atingida e o processo de reabilitação do meio ambiente físico da bacia do Rio Doce, que sofreu o maior desastre ambiental da história do Brasil, em 2015. O evento aconteceu em Governador Valadares entre os dias 6 e 8 de novembro, na campus da UNIVALE, que fica às margens do Rio Doce, e contou com o apoio institucional do Ministério Público do Estado de Minas Gerais – MPMG.

Rejeitos da sociedade

O dia seis foi dedicado ao diálogo com representantes das populações atingidas para avaliar sua situação depois de quatro anos e discutir o papel dos diferentes atores envolvidos com as medidas de compensação e reparação.

Estiveram presentes representantes dos atingidos dos municípios de Conselheiro Pena, Barão de Cocais e de Brumadinho, além de vários bairros de Governador Valadares.

O encontro com o atingidos aconteceu às margens do Rio Doce, no bairro São Tarcísio, onde se iniciou a formação da cidade.

A representante dos atingidos de Brumadinho levou as fotos das 272 vítimas da tragédia e as colocou no chão. Ela mostrou como a VALE manipula, desrespeita e controla o processo de indenizações na cidade.

O representante de Barão de Cocais mostrou que a VALE terminou a construção de um muro de proteção para conter a lama da Barragem Sul, mas que a população a vê como uma segunda barragem e que a incerteza e ansiedade continuam presentes na vida de uma parcela significativa daquela população.

Os representantes dos atingidos de Barão de Cocais e de Brumadinho afirmaram não aceitar a grandiosidade e arrogância da VALE, que parece considerá-los como se eles fossem rejeitos da sociedade.

Reabilitação do Doce

O dia sete foi dedicado ao debate sobre os rumos das pesquisas desenvolvidas pelas universidades no processo de reabilitação do Rio Doce, envolvendo o Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Gestão Integrada do Rio Doce – GIT/Univale, Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas – PPGICH/UFSC, Rede Interinstitucional de Pesquisa Socioambiental – RIPS/Univale-UFJF-IFMG, Rede Terra Água/UFV-UFOP-Univale, Fórum Permanente da Bacia do Rio Doce, Centro Agroecológico Tamanduá – CAT.

Foram avaliados os monitoramentos da qualidade da água em diferentes partes do Rio Doce, discutidos temas como aproximação dos cientistas com a população atingida, o uso da pesquisa científica como referência nas decisões judiciais, como também na defesa de interesses econômicos ou para fundamentar peças forjadas de comunicação social.

Foi enfatizada a necessidade de aprofundar os estudos de saúde pública da população atingida nos vários municípios e não apenas em Mariana e Barra Longa.

Na noite do dia sete aconteceu o Painel: Estratégias corporativas da Vale S.A e o neoextrativismo global, seguido de debate entre os professores Haruf Espindola (Univale), Bruno Milanez (UFJF), Gustavo Soares (UFV/Rede Terra Água) e Klemens Laschefski (UFMG).

Do Rio Doce ao Velho Chico

Já no dia oito, aconteceu a mesa-redonda “Do Rio Doce ao Velho Chico”, com a participação do Consultor Cláudio Guerra, Prof. Haruf Espindola, Prof. Sérvio Ribeiro (UFOP), Marina Oliveira (representante dos atingidos de Brumadinho) e do Procurador Helder da Silva (MPF).

A discussão mostrou algumas semelhanças entre as tragédias do Rio Doce e Brumadinho e também a importância da organização social e da ação política, principalmente dos atingidos diante das estratégias da VALE S.A.

Também foi detalhada a situação das 17 barragens de rejeitos da VALE S.A, que não têm o documento de declaração de estabilidade, estando 3 delas na situação extrema, podendo romper a qualquer momento.

Foi sugerido também que a Carta de Valadares, contendo questionamentos e recomendações do 4º SIRD, seja enviada ao CIF (Comitê Inter federativo).

Carta de Valadares

O 4º SIRD se encerrou com a elaboração da Carta de Valadares, contendo recomendações para as políticas de enfrentamento das tragédias e valorização da população atingida e para o direcionamento das pesquisas nas universidades envolvidas.

Depoimentos :

Prof. Haruf Espíndola- coordenador geral do 4º SIRD

“A iniciativa da UNIVALE e instituições parceiras reúne, anualmente, profissionais de diferentes áreas do conhecimento e busca, dentro de uma perspectiva interdisciplinar, tirar uma radiografia da realidade da bacia do Rio Doce. Nos 3 dias de nosso Encontro discutimos desde a situação dos pescadores ao longo do Rio, como também as estratégias corporativas da Vale S.A e do neo extrativismo global. Na Carta de Governador Valadares apresentamos recomendações para se resolver os inúmeros problemas econômicos, sociais e ambientais ainda presentes”

Consultor ambiental Claudio Guerra- coordenador do 4º SIRD

“Este Seminário se tornou uma referência na discussão da tragédia do Rio Doce, uma vez que reúne professores, pesquisadores, lideranças comunitárias, de diferentes instituições, a partir de fatos e dados da realidade hoje naquela bacia hidrográfica. O 4º SIRD é uma prova de resistência às mazelas e às lamas da grande mineração em Minas Gerais e um lócus do conhecimento que adota uma linha propositiva para se resolver os inúmeros problemas presentes ainda hoje na região”

tp

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