Bacia do Piracicaba ameaçada
Mineração nas escarpas da Serra do Caraça ameaça futuro Hídrico de Catas Altas e de toda Bacia do Piracicaba
Catas Altas, o município que abriga um dos mais altos pontos da história de Minas Gerais e do Brasil, inestimável elemento do Patrimônio Ecológico-Histórico-Cultural Nacional.
Ameaças aos mananciais locais e à hidrologia regional
O potencial hídrico do Município de Catas Altas é submetido a sérias ameaças, cuja intensidade cresce há décadas e apresenta evidências de continuidade e até aceleração do processo de degradação. Os agentes da degradação das condições hidrológicas são de duas naturezas principais, mas com efeitos altamente sinérgicos:
1 – os incêndios que afetam, anualmente, áreas da escarpa da Serra do Caraça e da Chapada da Canga, onde são desenvolvidas atividades minerárias, alterando fortemente os solos e impedindo a manutenção da cobertura vegetal, o que diminui a capacidade de infiltração para recarga de ambos os aquíferos;
2 – a atividade minerária que, ao extrair o minério de ferro das poucas jazidas sobrando, está, em ambos os casos e automaticamente, destruindo os únicos volumes de rochas que abrigam os aquíferos: é como se se quebrasse a garrafa onde se pretende guardar sua água na geladeira.
Neste sentido, pesquisa do Núcleo de Geomorfologia Aplicada e Gestão Ambiental (IGC/UFMG) analisou, por interpretação de imagens de satélite, o crescimento de manchas de solo nu na Chapada da Canga, compatíveis com áreas de extração mineral, entre as datas de fevereiro 2018 e setembro 2019, quando somaram uma superfície de 20,28 hectares.
Uma busca no sistema de informações SIGMINE da ANM revelou a gravidade da ameaça sobre este manancial.
Somente no que diz respeito às áreas incluídas, mesmo que parcialmente, no município de Catas Altas, encontrou-se os 3 requerimentos seguintes:
– 1 Requerimento de Pesquisa (34,75 ha) de minério de ferro, protocolizado pela empresa Canga Exploração e Venda de Areia e Cascalho Ltda ME, em 22/05/2019. Algumas superfícies desnudas detectadas pelo estudo se encontram inseridas no perímetro requerido;
– 1 Autorização de Pesquisa (1,188 ha) de minério de ferro, atendendo a demanda protocolizada pela empresa Vale SA, em 26/07/2019. A maioria das áreas desnudas detectadas pela pesquisa se situa neste perímetro.
– 1 Concessão de Lavra (307,71 ha) de bauxita, atendendo a demanda requerida pela empresa Vale SA, em 09/04/2019.
Adeus Chapada da Canga e águas de Catas Altas
Só sobra dizer adeus à Chapada da Canga e seu manancial tão precioso para o município.
Essa pesquisa forneceu elementos valiosos para, também, entender a impossibilidade de adquirir uma porção de terreno na borda da chapada, para instalação do Projeto de Observatório Astronômico PMCA/UFMG.
Caso se somasse isto aos desejos da empresa Vale SA de ampliar as atividades de extração de minério de ferro do Distrito Fazendão, dir-se-á, também, adeus aos mananciais que hoje abastecem a população de Catas Altas e Morro dÁgua Quente.
Finalmente, deve-se lembrar que a extração de minério de ferro na Serra da Boa Vista já alterou profundamente o armazenamento no Aquífero Cauê que abastecia o córrego Quebra-Ossos.
Vale do Aço em perigo
A extensão dos danos à hidrologia regional
Os corpos hídricos fluviais são corpos em movimento que tanto transportam motivos de alegria e de vida saudável, quanto são obrigados a carregar motivos de tristeza e desespero. E haja vista que a extração minerária, principalmente a de ferro, estende uma triste mancha sobre a continuidade das escarpas da Serra do Caraça no município de Mariana, onde se localizam outras nascentes vitais do rio Piracicaba, é óbvio que o conjunto desta bacia está tendo seu regime hidrológico fortemente afetado e suas águas poluídas.
As cidades da segunda Região Metropolitana de Minas Gerais, a do Vale do Aço, que agrupa os municípios de Ipatinga, Timóteo, Coronel Fabriciano e Santana do Paraíso, com seus quase 500.000 habitantes, deveriam ter motivos de sobra para alimentar dúvidas quanto ao seu futuro hídrico. Ipatinga em especial, com sua dependência extrema dos aquíferos aluviais do rio Piracicaba, é um dos casos mais sérios neste contexto.
A usina siderúrgica da empresa USIMINAS, assentada sobre um lençol aluvial de até 80 metros de espessura, terá sérios problemas caso se acentuarem as estiagens, com seus correlatos rebaixamentos dos níveis freáticos.