Simulado de fuga em Rio Piracicaba

População piracicabense receberá treinamento para fugir de lama, caso barragens se rompam

Apesar da demora, enfim, a Vale fará um treinamento com a população de Rio Piracicaba, preparando-a para “fugir” de uma possível ruptura das barragens de rejeito no município.

Esse treinamento deveria ter acontecido há 9 anos – já que a legislação que trata do assunto é de 2010, e só acontece agora devido as inúmeras tragédias ocorridas ao longo dos últimos quatro anos, com cerca de 300 mortes.

Para a população de Rio Piracicaba o simulado está previsto para ser realizado em 30 de novembro, último sábado do mês.

Segundo os órgãos envolvidos a intenção é orientar a população para agir em caso de emergência de barragem. O simulado faz parte do Plano de Ações Emergenciais para Barragens de Mineração (PAEBM).

As Defesas Civis Estadual e Municipal, com apoio da Vale e da Prefeitura de Rio Piracicaba, iniciam os preparativos para o simulado de emergência das barragens Diogo, Porteirinha e Monjolo, da Mina Água Limpa.

Para isso, desde o dia quatro de novembro, visitas às residências e aos estabelecimentos comerciais das Zonas de Autossalvamento (ZAS) estão sendo realizadas com o objetivo de dar continuidade ao levantamento de informações sociais para o Plano de Ação de Emergências de Barragens de Mineração (PAEBM), bem como apoiar as Defesas Civis para elaboração dos seus respectivos Planos de Contingência.

Estão sendo coletadas informações como número de moradores, idade, necessidades especiais, além do registro de animais domésticos.

População incrédula

Apesar de informar sempre que as três estruturas estão estáveis, inclusive informando que as mesmas tiveram as Declarações de Condição de Estabilidade (DCEs) renovadas em setembro deste ano, a população se apresenta cética quanto a segurança dos empreendimentos.

Segundo um morador do bairro Louis Enshc (Samitri), uma das áreas mais susceptíveis a lama, a população teria perdido totalmente a confiança na empresa: “São dois desastres ocorridos em pouco tempo, centenas de mortes, inclusive com muitos funcionários da própria empresa e ela sempre alegando que estaria tudo dentro das normalidades com suas barragens; não dá pra acreditar no que dizem”, disparou.

O evento

O Simulado, segundo informações da Defesa Civil da cidade, terá início às 15 horas e irá envolver moradores da zona rural, desde a localidade de Pantame, passando por Bicas, Samitri, Centro, Praia, Córrego São Miguel, Bairro de Fátima e até Boa Vista, totalizando cerca de 4.300 pessoas.

Mais cedo, às 10h, serão realizadas reuniões preparatórias em cinco pontos distintos do município, onde a população receberá orientações sobre o funcionamento da atividade. Os empregados da empresa que estiverem trabalhando no dia e horário da atividade também vão participar.

Participam ainda a Polícia Militar com reforço no efetivo local, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil Estadual além de funcionários da prefeitura e Vale.

Diretor cai em grampo

Um dos episódios recém revelado pela imprensa veio confirmar os temores e as desconfiança das populações que vivem abaixo das estruturas da Vale.

Foi revelado que, investigadores da tragédia de Brumadinho têm em mãos um grampo em que o diretor jurídico da Vale, Alexandre D’Ambrosio, é flagrado dando orientações para que seus funcionários não entregassem às autoridades documentos referentes à barragem de Maravilhas, em Minas Gerais.

A gravação foi feita dias antes do rompimento da barragem em Brumadinho, em 25 de janeiro.

Na conversa, obtida com autorização judicial, D’Ambrosio afirma que, para a Vale, é mais vantajoso pagar a multa imposta pela Justiça do que compartilhar as informações.

Foi justamente por esconder informações, segundo o noticiário, que centenas perderam suas vidas, inclusive muitos funcionários da empresa: “A Vale não está nem ai pra ninguém, seja população, seja os próprios funcionários, eles querem é lucro, somos apenas números para ela”, denunciam vítimas das barragens.

Grampos

A mineradora é acusada também de ter usado grampo para monitorar grupos contrários às suas atividades e jornalistas.

A empresa nega.

tp

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