Crime: Árvore centenária é queimada
João Monlevade – A localidade conhecida como “Serra Pelada” estava longe de ver em seu horizonte o que seria a cidade de João Monlevade e o Pau DÓleo (ou Copaíba) já estava lá.
A exuberante árvore Copaifera Langsdorffii, nome científico da Copaíba ou Pau DÓleo, como era conhecida aqui na cidade, considerada pelos botânicos e nativos o santo remédio da floresta, foi mais uma vez vítima da insensatez humana.
Nem sua beleza e suas propriedades medicinais foram suficientes para lhe proteger da ação criminosa de vândalos.
A árvore frondosa que já havia resistido a uma tentativa de assassinato – com o corte de suas raízes, a um temporal que lhe fez tombar, mas manteve vivos seus galhos ficando ainda mais atraente; resistindo também a uma tentativa anterior de incêndio, desta vez pereceu.
No dia 15 de outubro, transeuntes depararam com o tronco principal totalmente em chamas após atitude pontual contra sua vida – “foram lá para matá-la definitivamente”.
Repercussão
Tão logo o editor do Tribuna do Piracicaba – A Voz do Rio, Geraldo Dindão Gonçalves, recebeu as imagens em vídeo, fez uma denúncia junto à Polícia Militar do Meio Ambiente e compartilhou a mesma em sua Rede Social juntamente que imagens feitas há pouco mais de uma semana quando esteve passando pelo local durante trilha de bicicleta.
Após a publicação em rede a repercussão foi imediata – com dezenas de manifestações de revolta, compartilhamentos e indignação.
Ao mesmo tempo que a tristeza tomou conta de muitos, iniciou-se também uma mobilização com objetivo de tentar salvar a árvore – alguns grupos de WhatZap foram criados e o movimento conseguiu reunir voluntários que por sua vez se reuniram com a Secretaria de Meio Ambiente Fernanda Ávila e o provável proprietário do terreno José Mário Estrela.
O grupo, que tem à frente Flávia Henriques, Leandro Oliveira, Fernanda Caroline, Ernane Motta, Lorraine Bozi e Túlio Mól, pretende, entre outras ações, tentar recuperar a árvore e ou promover plantios da espécie no mesmo local.
Reuniões e visitas ao local estão programadas para que se possa ser elaborado um plano de execução para a revitalização do local, já que além disso, o grupo quer transformar de vez o lugar em um atrativo da cidade.
Seria a continuidade do “Mirante do Pau Dòleo”.
Lembranças
“Nossa, é de cortar o coração”, essa foi a expressão usada por Luiz Gonzaga Bicalho, 63, ao chegar na tarde dessa segunda-feira, 21, ao local onde jazia o “Pau DÓleo”.
Luiz, juntamente com Dindão, foi até a antiga localidade conhecida como “Serra Pelada”, que fica hoje entre os Bairro Boa Vista e Cachoeirinha, para verificarem in loco as condições da árvore.
Nascido e criado próximo à localidade de “Serra Pelada”, na Fazenda Cedro, Luiz Gonzaga Bicalho, filho de Manuel Bicalho, lembra com saudades dos tempos de criança: “Eu, com cinco anos, vinha a cavalo, na garupa com meu pai até Carneirinhos e passávamos aqui e ela sempre frondosa. Ia estudar a pé e passava todo dia aqui, era o ponto de tomar fôlego, a virada de morro”, disse Luiz.
Luiz revelou que sua mãe sempre falava da árvore: “Minha mãe comentava que desde que ela entendia por gente a árvore já existia ali”, relembrou.
Formado em agropecuária com especialização em florestas, diante do estado da árvore o técnico deu seu parecer – “Não tem jeito – separaram o tronco da raiz e ainda seus principais galhos”.
Quem também lamentou o crime contra a árvore foi o empresário, Eustáquio Bicalho, irmão de Luiz.
Segundo Eustáquio, quando criança, também transitava pelo local com seus pais e relembra com saudades e admiração da frondosa árvore: “O pessoal na época falava que era assombrada”, brincou.
Descendentes
Apesar da tristeza pela perda de tão peculiar individuo da espécie vegetal, nem tudo foi perdido.
Durante a ida ao local, ainda na tarde do dia 21, Luiz e Dindão vasculharam a área e identificaram três filhas da Copaíba, um pouco abaixo onde jaz a mãe.
Segundo Luiz, provavelmente as sementes levadas pelo vento, acharam um espaço no terreno, bastante pedregoso, e ficaram também suas raízes.
Mobilização
Entre ações propostas destaca-se uma visita ao local nesta sexta-feira, 25, pela manhã, juntamente com a Secretaria de Meio Ambiente e Polícia Militar do Meio Ambiente, para avaliação da situação e posteriormente uma reunião no sábado para criação de um plano de ação objetivando um possível revitalização do local e ainda uma caminhada no mesmo dia, a partir das 16 horas, como protesto contra o crime ocorrido.
Saiba mais:
O nome científico da Copaíba ou Pau DÓleo é Copaifera Langsdorffii.
Ela é considerada um potente anti-inflamatório. Antimicrobiana, faz parte de muitos cosméticos com essa finalidade. Aparece em sabonetes para acne, em cicatrizante de feridas e remédios para alergias tópicas.
Pode-se colocar gotas nos xaropes, como expectorante. O óleo também é usado contra infecções urinárias, contra hemorragias e picadas de insetos. Pode-se combinar na composição de muitos outros produtos.
Localidade de “Serra Pelada”
O lugar onde a árvore reinou absoluta por mais de um século é conhecido por “Serra Pelada” devido as características do terreno – formado por cristais de quartzo o que impedia o desenvolvimento de vegetação de médio e grande porte.
O “Pau DÓleo” foi uma situação a parte – onde a árvore achou um espaço e pode se desenvolver.
O local que fica acima do bairro Cachoeirinha carece de um trabalho para que as águas da chuvas possam ser absorvidas e alimentar as nascentes que atende o bairro abaixo.
Atrativo
A localidade onde o Pau DÓleo cresceu, na “Serra Pelada”, situada em um ponto geográfico com considerável atitude, criaram condições para fazer do lugar um ponto de referência pela sua beleza, tanto cênica quanto a linha de horizonte que apresenta.
Centenas de moradores da redondeza relatam usar o local para piquenique; ciclistas, motociclistas e jipeiros tinham o local como referência de parada e até noivos tinham o local como cenário para fotos.
Mirante do Pau DÓleo – Um mirante natural.
O lugar ainda conta com uma estrada, um caminho de servidão centenário, de domínio público, o que permite que todos tenham acesso ao local. O mesmo não pode ser fechado conforme legislação vigente.