O que nos cabe!
Se a população mundial vive um momento conturbado, imagine nós, moradores das 21 cidades que compõe a Bacia do Piracicaba onde temos cerca de 70 barragens sob nossas cabeças sendo a maior parte delas de rejeito de minério.
Somos cerca de 800 mil habitantes que, de uma hora pra outra podemos ficar sem água, além de, se estivermos em algumas dessas 21cidades, termos que ficar atentos ao som de sirenes de alerta para – se ouvir, sair correndo, seguindo as placas de “Rota de Fuga”.
Essa situação de “ficar sem água” se dá devido a várias situações: Desmatamento; queimadas; impermeabilização do solo nas cidades; rebaixamento de lençol freático feito pelas mineradoras provocando a morte de nascentes; monocultura principalmente do eucalipto em APPs também esgotando nascentes; e a pior delas – o risco de contaminação dos cursos dágua por rejeito de mineração.
As tragédias de Mariana, de Brumadinho e agora o terror em que vive a população de Barão de Cocais, aqui do lado – parece que não foi o suficiente para despertar a atenção da população da bacia – que permanecem, em sua maioria, alienadas e distantes da realidade, fazendo valer a máxima – “Só se dá valor a água quando a fonte seca”.
Para se ter uma ideia, caso aconteça o rompimento da barragem Sul Superior na Mina de Gongo Soco em Barão de Cocais, ficarão sem água, por um considerável período, as cidades de João Monlevade, Antônio Dias, Timóteo, Coronel Fabriciano e Ipatinga.
Mesmo diante essa iminente tragédia a população permanece adormecida.
Além das ameaças que essas barragens nos traz, temos ainda que conviver com a sede das mineradoras – que pretendem ampliar suas minas – como nas cidades de Mariana, Santa Bárbara e Catas Altas, bem nas vertentes da Serra do Caraça – um berçário de águas.
Com promessas de desenvolvimento econômico, geração de emprego, impostos e renda, as populações vão se atolando em um caminho sem volta – quando percebem estão enterrando pedaços de seus entes queridos.
Culpa de quem?
Por omissão ou por negligência, a culpa é de todos nós. Não somos cidadãos, somos habitantes.
Quem não pensa, deixa que terceiros pensem por si; quem não se posiciona, é posicionado; quem não age, apenas é conduzido para chegar nos lugares que, muitas vezes nem queria ir, mas quando percebe, já foi. E retornar não é uma opção.
No caso da mineração, não queremos acabar com ela – seríamos idiotas pensar assim – só não queremos que ela acabe com tudo.
Gostamos muito de culpar alguém – o vereador, o prefeito, o governador, o deputado, o presidente – mas é bom lembrar que todos estão lá porque foram colocados pela participação ou não de toda sociedade.
A cidade é suja não porque o prefeito sujou ou deixou de limpar – mas porque os habitantes sujaram e após a prefeitura limpar, sujaram novamente – e por ai vai – habitantes fazendo a coisa errada.
O sujeito suja, a prefeitura não fiscaliza e nem pune e todos pagam por isso.
O habitante só é cidadão quando ele participa ativamente da vida comunitária, senão ele passa ser apenas morador do lugar. Enquanto morador ele estará sujeito a todos os impactos negativos dessa falta de participação.
O que nos cabe então?
Sabemos que não dá para mudar o mundo em um passe de mágica ou de uma hora para outra, mas ao menos o próprio papel a gente tem de cumprir bem.
A nossa parte tem que ser feita. Não fazer nada, não é opção; não fazer nada é ser conivente, por omissão, com quem faz besteira e ou coisas erradas.
Um empreendimento que vai comprometer o abastecimento de água merece a participação de todos, um lixo e ou entulho descartado inadequadamente prejudica todos, uma queimada prejudica a todos, um avanço de sinal prejudica a todos, um desmatamento prejudica a todos – a vida em comunidade requer participação.
Nos cabe além de fazer o certo, tentar impedir e ou no mínimo denunciar o errado, participar, pensar, se posicionar e ir com nossas próprias pernas onde queremos realmente chegar, ao contrário vamos permanecer nesse ciclo vicioso, onde quem mais paga somos nós – a base dessa pirâmide, habitantes das cidades.