Mariana, Brumadinho, Barão de Cocais, Nova Lima e agora Catas Altas
Após os rompimentos das barragens que destruíram Bento Rodrigues, Brumadinho e que ameaçam agora Barão de Cocais e Macacos, o distrito de Morro DÁgua Quente entra na lista da Vale.
Geral – Após o desastre de Mariana, que sepultou Bento Rodrigues e o Rio Doce, o de Brumadinho que deixou um rastro de morte, uma lama invisível cobriu comunidades ameaçadas por reservatórios de rejeito de mineração. Desde então, 22 barragens em 12 cidades mineiras entraram em emergência. Quatro estão no nível 3, o máximo, de risco de rompimento iminente, todas da Vale.
São lugares como o outrora turístico distrito de São Sebastião de Águas Claras (Macacos), em Nova Lima, ou a cidade de Raposos, ambos na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A vida ali entrou em suspensão pela indefinição sobre o destino das barragens. Desde o início do ano essas barragens se encontram em alerta máximo.
Macacos e Raposos
Macacos está na zona de auto salvamento, situada a até 30 minutos da chegada da onda ou 10 km de distância. Na prática, é a zona onde as pessoas só contam com si mesmas para se salvar. Mais de 300 moradores foram tirados de casa (cerca da metade da população) e hoje moram em imóveis alugados pela mineradora. Mas o distrito todo mudou. Recebe 10% dos turistas que lotavam e movimentavam o distrito. As ruas estão vazias e repletas de placas com rotas de fuga.
Empresários e moradores choram e lamentam a situação desesperadora – tirados de suas casas e de seus empreendimentos – sem futuro.
Em Raposos, as rotas de fuga estão por toda parte. A cidade se desenvolveu da mineração e seus 15 mil habitantes estão cercados por 14 barragens de rejeito.
O medo é constante e as pessoas adoecem diante o risco de não terem um amanhã.
Socorro e Barão de Cocais
Mesmo destino desesperador tem a população de Barão de Cocais que até o momento não sabe quando a vida vai voltar à normalidade. Há mais de 150 dias, a cidade vive em um clima de medo. Desde que o nível de segurança da barragem Sul Superior, na Mina Gongo Soco, também da Vale, foi alterado para o índice 3, em 8 de fevereiro, a população está apreensiva com o risco de mais um desastre ambiental.
Desde que a primeira sirene tocou na cidade, avisando os moradores sobre um possível risco de rompimento da barragem, muitos moradores não dormem direito.
Desde maio, quando a barragem entrou em nível crítico com a possibilidade de rompimento do talude, o comércio foi afetado e agências bancárias fecharam. Até hoje, algumas dessas agências permanecem fechadas e os bancos têm oferecido transporte para que os correntistas sejam atendidos na cidade vizinha de Santa Bárbara.
Até o momento, o comércio não voltou ao ritmo normal. A economia da cidade também foi afetada pela redução de arrecadação de impostos e pela queda nas vendas no comércio local.
De acordo com a Prefeitura de Barão de Cocais, esse prejuízo total não é possível de mensurar.
Alertas na Mina Gongo Soco
No dia 8 de fevereiro, os moradores do bairro Socorro foram retirados de casa e ainda não puderam voltar. Atualmente, eles moram em imóveis alugados pela Vale ou então em casas de parentes.
No dia 22 de março, a barragem que estava em nível 2 de segurança teve o índice elevado para 3, que significa alerta máximo. A Vale novamente tocou as sirenes de alerta para a população.
Catas Altas na mira da Vale
Seguindo sua campanha de ampliação de produção a mineradora Vale agora aponta seus holofotes para Catas Altas com o Projeto “Ampliação Mina de Fazendão”.
Esse projeto inclui a ampliação da cava São Luiz e retomada das operações nas cavas Almas e Tamanduá.
Além de desvio de cursos dágua, rebaixamento de lençol freático, impactos com ruídos e poeira (o Morro DÁgua Quente já sofre com isso), a cidade vai ver extinta a sua vocação turística, assim como Macacos.
Para seguir seu projeto a mineradora precisa de vencer algumas etapas e uma delas seria obter da prefeitura uma carta de conformidade alegando que a atividade ora pretendida não causará interferência na cultura, ambiente e nas atividades econômicas relacionadas ao turismo.
O vice-prefeito, Fernando Guimarães já bateu o pé e afirmou ser contra algumas das pretensões da empresa: “Isso seria o fim do Morro DÁgua Quente, antes de ser vice-prefeito, político, empresário, eu sou morador do Morro e quero bem a esse lugar. Não sou contra a mineração, sou contra ela ser feita em qualquer lugar e de qualquer forma, tem que haver limites”, defende Guimarães.
Empresários da trade turística da cidade estariam se mobilizando buscando evitar o pior: “Ou barramos agora ou não teremos futuro, nem nossos empreendimentos e nem a vida nesse lugar, basta ver o que a empresa faz e desfaz nesses outros lugares, aqui perto da gente, temos exemplo, não podemos deixar isso acontecer”, disparou um proprietário de pousada que preferiu não se identificar temendo retaliações – “A poderosa Vale nos causa medo”, concluiu.
Mineradora deve a cidade
Em relação a Catas Altas não se pode afirmar o compromisso social que a empresa tem pregado em relação às comunidades onde atua- prova disso é que a mineradora Vale tem uma dívida com a cidade de cerca de R$3 milhões, isso porque não estão sendo computados todas as incorreções nos pagamentos de taxas ao município.
Discordando da cobrança feita pelo município, a Vale, ao invés de demonstrar responsabilidade social e negociar a dívida, preferiu depositar em juízo os valores cobrados, sendo R$3.001.636,42 referente a 2017 e R$473.209,54 referente a 2018, ambos depositados em juízo no dia 23/05/18.
Apesar de inúmeras tentativas de buscar resolver a pendência pelo diálogo, quando o prefeito José Alves Parreira buscou insistentemente a negociação, a empresa simplesmente desprezou o momento que o município vivia, devido ao não repasse de receitas pelo governo do estado, deixando o município em situação crítica em relação aos serviços prestados à população.