A ONU e as mudanças climáticas
- Águas e mudanças climáticas - Cláudio Guerra
- admin
- 16/12/2023
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“A gente (cientista) precisa se comunicar melhor com a sociedade e com os políticos para apresentar a resposta que a ciência pode dar, a partir da tradução da informação científica”
(Suzana Montenegro, UFPE)
A questão das Mudanças Climáticas é sentida e discutida hoje nos quatro cantos do mundo, principalmente pela elevação das temperaturas e a ocorrência cada vez mais freqüente das ondas de calor. O ano de 2023 foi confirmado como o mais quente da história da humanidade.
Diante de cenário tão ameaçador, surgem várias indagações: O que está acontecendo com o clima da Terra? Quem são os responsáveis pelo aquecimento global? O que está sendo feito para reduzir as emissões dos GEE´s (Gases do Efeito Estufa)? O que nós podemos fazer?
É importante lembrar então o papel desempenhado pela ONU nessa matéria.
No ano de 1992, durante a realização, no Rio de Janeiro, da Conferência Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, conhecida como ECO 92, a ONU criou a Agenda 21, a Convenção da Biodiversidade e a Convenção do Clima. Portanto, a ONU vem trabalhando este tema há mais de 30 anos e realizando as Conferências Internacionais, investindo milhões de dólares em estudos científicos, pesquisa, seminários e programas.
A primeira Convenção do Clima (COP 1) foi realizada em 1995, em Bonn, na Alemanha. Em 1997, a ONU criou o Protocolo de Kyoto, que estabeleceu, pela primeira vez, metas voluntárias de cada país para reduzir emissões dos GEE´s. Este foi um grande avanço, pois, a partir daí, os países ricos assumiram a vontade política para enfrentar tal desafio.
Em 1998, a ONU criou o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), que passou a fornecer informações e dados científicos inquestionáveis como também divulgar diretrizes e orientações para a redução dos impactos climáticos. O IPCC afirma, categoricamente, que o homem mudou o clima da Terra.
Em 2005, depois de oito anos de discussões, avanços e retrocessos, entrou em vigor o Protocolo de Kyoto, a primeira experiência mundial de quantificar as emissões dos GEE´s.
Em 2007, o IPCC ganhou o Prêmio Nobel da Paz, o que deu enorme visibilidade e colocou a questão das mudanças do clima na ordem do dia em todo o mundo. Neste mesmo ano, o IPCC publicou o seu 4º Relatório de Avaliação Global e nele foi enfatizado que as ações humanas realmente mudaram o clima da Terra e que a sobrevivência dos seres vivos (incluíndo aí os humanos) está ameaçada.
Em 2015, a COP 21, foi uma das mais importantes, pois contou com a presença, pela primeira vez numa COP, dos Presidentes dos Estados Unidos (Barak Obama) e China (Xi Jin Pin), dois dos maiores emissores de GEE´s do planeta. Naquela COP, também chamada de Acordo de Paris 2015, o Brasil assumiu, voluntariamente, o compromisso de reduzir em até 37% suas emissões dos GEE´s até 2025, tendo como referência suas emissões no ano de 2005. Outro aspecto relevante do Acordo de Paris 2015 foi que os países ricos prometeram investir 100 milhões de dólares por ano em medidas de combate às mudanças climáticas nos países pobres ou em desenvolvimento.
Em Paris 2015, ficou acordado que cada país tinha a obrigação de elaborar sua CND (Contribuição Nacional Determinada): nela são definidos os planos de mitigação e adaptação às mudanças climáticas (no curto e médio prazo) como também suas metas de redução dos GEE´s. E mais: todo plano deverá ser atualizado a cada 5 anos. Somente assim, com compromissos assumidos por escrito, é possível fazer um acompanhamento transparente.
Outra questão colocada: todos os países precisam reduzir seus investimentos em combustíveis fósseis (gasolina, óleo diesel) e redirecioná-los para a economia verde (transição energética).
Infelizmente, o que está acontecendo hoje é que os países, em geral, salvo brilhantes exceções, mesmo sabendo que as emissões de gases aumentam todos os anos, não estão considerando os dados técnicos científicos e também os alertas do IPCC.
A conclusão é simples: apesar dos inúmeros e diversificados esforços da ONU, a maioria dos países não estão tomando decisões práticas no sentido de diminuir a emissão dos GEE´s. Este é o caso, por exemplo, do Brasil, que é o 6º maior emissor de GEE´s e que atualizou suas metas para 48% até 2025 e 53% até 2030, sempre tendo como referência suas emissões do ano de 2005.
Criticar a ONU é fácil e demonstra total desconhecimento do grave cenário de mudanças do clima na Terra.
* Claudio B. Guerra é consultor ambiental na bacia do Rio Doce nos últimos 30 anos. Fez o mestrado em recursos hídricos pelo UNESCO Institute for Water Education, em Delft, na Holanda.