Água e mudanças climáticas Nosso clima, nosso futuro (IPCC, 2023)
O IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), a partir de seus estudos e de comprovações científicas, vem alertando, desde sua criação pela ONU em 1988, para a ocorrência das mudanças climáticas causadas pelas intervenções humanas e que geram grandes impactos na natureza e na vida, em geral, na superfície do planeta. Desmatamentos, queimadas, descargas de veículos e de unidades de produção industrial são algumas das causas das emissões descontroladas de gases do aquecimento global, principalmente o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4). A vida está ameaçada como nunca antes.
A elevação descontrolada da temperatura média da superfície da terra vem gerando o fenômeno dos eventos climáticos extremos: ora chuvas torrenciais e ciclones ora a seca prolongada. Em outras palavras, as alterações climáticas em curso estão ameaçando até o acesso e o abastecimento de água às comunidades humanas.
Diante de tal cenário, está em curso um enorme esforço para convencer as pessoas e organizações nacionais e internacionais a tomarem medidas urgentes para diminuir os efeitos de tais mudanças. Estes múltiplos avisos e alertas foram ignorados até muito recentemente, mas a questão é agora uma prioridade mundial: todos os países, ricos ou pobres, já sofrem os efeitos das mudanças climáticas. O homem mudou o clima da terra. As ondas de calor muito fortes ocorrem em qualquer das 4 estações do ano. Aqui cabe enfatizar que a água é elemento vital em todos os processos de mudanças do clima.
Todos os cenários climáticos confiáveis elaborados pelo IPCC e publicados nos seus vários relatórios de avaliação mostram os seguintes resultados e tendências:
As ameaças estão presentes nas áreas da saúde, segurança alimentar, abastecimento humano de água, e na natureza (biodiversidade), base da sustentação de nossas vidas (atmosfera, solos, vegetação, águas, etc).
A agricultura e o desenvolvimento rural já estão sendo duramente atingidos pelas alterações climáticas gerando riscos na produção mundial de grãos e desequilíbrio no comércio internacional das commodities.
A pobreza e a subnutrição tendem a aumentar com a incerteza do abastecimento alimentar.
O regime climático incerto e instável implicará em mais riscos de vulnerabilidade tanto para os seres humanos como para a biodiversidade.
Uma redução dos glaciares (calotas polares) implicará num risco crescente de segurança para centenas de milhões de pessoas que vivem perto dos litorais.
Mas, no Relatório de 2023, o IPCC apresenta também algumas recomendações para se atacar os problemas:
Profundas, rápidas e sustentáveis reduções nas emissões dos gases do aquecimento global
Aumentar os recursos financeiros a serem empregados em programas em todos os 5 continentes
Disponibilidade de novas tecnologias e cooperação internacional, coordenadas pela ONU
Segundo o IPCC, temos hoje tecnologias e alternativas viáveis e efetivas para reduzir os efeitos das mudanças climáticas e salvar nosso futuro. Para isto, precisamos continuar investindo na transição para uma economia verde( ou circular) e nas formas de energia sustentáveis( eólica, solar, biomassa, etc) . No geral, o que se busca é um estilo de vida mais sustentável e um mundo mais solidário e justo.
Combater as mudanças climáticas é firmar um compromisso com as novas gerações. Nesse sentido, cabe lembrar aqui o caso em que, em setembro de 2023, seis adolescentes de Portugal entraram com uma ação na Corte Europeia de Direitos Humanos reclamando que os países europeus estão violando seus direitos humanos e ameaçando seu futuro ao não tomarem medidas adequadas para combater o aquecimento global. Esta ação judicial chama a atenção de todo o mundo, assim como as iniciativas da estudante/ ativista sueca Greta Thonberg, que cobra responsabilidades e posicionamentos dos governos e da ONU para um futuro saudável do planeta.
Claudio B. Guerra é consultor ambiental na bacia do Rio Doce nos últimos 30 anos.
Fez o mestrado em recursos hídricos pelo UNESCO Institute for Waters Education, em
Delft, na Holanda.